"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

quinta-feira, 7 de maio de 2009

CATÁLOGO MAIGRET, 3

A PRIMEIRA INVESTIGAÇÃO DE MAIGRET (La première enquête de Maigret). Embora publicado em 1949, já na fase intermediária da série Maigret, enfoca a primeira investigação do comissário, ainda um simples secretário, e se passa no ano de 1913. O jovem, inexperiente e indeciso Maigret se vê às voltas com um assassinato sem corpo nem evidências concretas, e em pleno seio da alta burguesia parisiense. A história começa com um grito numa janela, seguido de um disparo. A única testemunha do evento é um músico, que se tornará o primeiro assistente de Maigret e, sem dúvida, o seu único arrimo nessa história, em que fica patente o tratamento diferenciado que se confere às classes sociais, mesmo num país de ideais libertários como a França. Pobres são pobres; ricos são ricos e mais alguma coisa... Maigret é convidado por seu chefe a fazer uma investigação pró-forma, que não leve a nada. Ao fim, porque desobedece, é afastado do caso e ignorado por todo o corpo policial, como se fosse um ser invisível e inumano. Mas tem a sua recompensa: é promovido. E, assim, silenciado. O jovem Maigret aprende então, e bem cedo, que há concessão para tudo neste mundo e que a vida, como diria Machado de Assis, é só uma operação de créditos e débitos.

AS CORES DA VIDA – "Da tarde ficara-lhe uma lembrança radiosa, a de uma das mais belas primaveras de Paris, do ar tão suave e perfumado que as pessoas se detinham na rua para aspirá-lo. Há dias as mulheres deviam sair nas horas mais quentes trajando roupas leves, mas só então ele o percebia. Tinha a impressão de assistir a uma floração de blusas claras, e já se avistavam margaridas, girassóis e miosótis nos chapéus, enquanto os homens se arriscavam a usar seus palhinhas."

VERDADE INÚTIL – "'Compreende? Provocar o mínimo de desgaste. A quem serviria toda a história?' 'À verdade.' 'Que verdade?'"

IMPRESSÕES – "Maigret não era ainda um homem desembaraçado. Lembrava-se apenas do cheiro de desinfetante no momento em que se precipitou na escada do metrô, do estalido das portas automáticas, da longa viagem na penumbra subterrânea, com vultos que oscilavam a cada movimento do carro, rostos escavados pela luz elétrica, olhos sonolentos."

SEGREDO A DOIS – "Uma enfermeira cortou-lhe os cabelos do alto da cabeça enquanto o médico lhe dizia tolices. Ela era muito bonita, assim uniformizada. Pelo jeito como se entreolhavam, deviam ter-se amado pouco antes da chegada de Maigret."

COMO NO AMOR – "Tinham estragado tudo, conspurcado a sua polícia. Não estava aborrecido por lhe arrebatarem um pequeno sucesso. Era algo mais profundo. Lembrava uma desilusão amorosa."

PODER – "Compreendia agora que não era uma simples questão de dinheiro. A partir de determinado nível de fortuna não é o dinheiro que importa, e sim o poder."

2 comentários:

Hitch disse...

Das primeiras páginas atravessadas, já retemos o mínimo grau de transcedência possível. Grande Simenon. Aquele abraço. T

Emmanuel Mirdad disse...

Mayrant!

Entrevista quente com o gênio Mou Brasil. Ele teve a coragem de expor diversas incoerências do nosso cenário cultural.

Não perca!

Aqui, no post do dia 12.05: www.elmirdad.blogspot.com