"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

sexta-feira, 7 de março de 2014

LEITURAS, 44: A SEREIA

Edição britânica de O leopardo.
Sofisticação. Refinamento. Beleza. Exatidão. São as palavras que definem a novela A sereia (Lighea, 1961), do italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa. Em releitura recente, a quarta em vinte anos, foi a conclusão a que cheguei. A melhor edição em língua portuguesa é, sem nenhuma hesitação, a da Hiena Editora, de 1993, pela Coleção Cão Vagabundo, volume 32, com tradução de José Colaço Barreiros, que assina também o prefácio, no qual transcreve a curiosa teoria de Tomasi di Lampedusa, de que há dois tipos de prosa: a "magra", quase sempre seca e precisa, à qual filiam-se autores de sua predileção, como Goethe e Stendhal; e a "gorda", para a qual ele prefere não fornecer exemplos. A primeira se caracteriza por exigir uma colaboração efetiva do leitor, que ilumina seus não-ditos, suas sugestões discretas, quando não ocultas, suas alusões. A segunda promove uma recepção inversa, à qual nada falta e, por isso, pouco exige do leitor, subtraindo-lhe "a responsabilidade de deduzir e desenvolver-se a si próprio a partir das palavras" lidas, "porque já está tudo deduzido e desenvolvido nessas palavras". Nem precisamos dizer qual é a escolha do nosso autor. Basta que se leia A sereia. Dois livros apenas fizeram a fortuna de Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896-1957), recatado, avesso aos circos literários e que por toda a vida evoluiu a par do que lia e escrevia: o admirável  romance O leopardo (Il gattopardo, 1958) e Os contos (I racconti, 1961), que inclui a novela Lighea, frequentemente reeditada em separata, por causa de sua extensão e por se destacar, em excelência literária, frente aos demais relatos: Recordações da infância, A alegria e a lei, e Os gatinhos cegos. O primeiro teve muitas edições no Brasil, inclusive atuais; o segundo, não muitas. Duas das mais recentes se deram na íntegra: O senador e a sereia (L&PM, 1980) e a mais fiel Os contos, pela editora paulista Berlendis & Vertecchia, em 2001. A terceira, com o título Histórias sicilianas, suprimiu o relato Recordações da infância e veio a público também pela L&PM, em 1996, no econômico formato de bolso da editora. As três estão esgotadas.

Um comentário:

Lidi disse...

Aprecio demais o cinema italiano. Quanto à literatura, que eu me lembre, só li Dino Buzzati (O deserto dos tártaros e Poema em quadrinhos). Dois livros que me marcaram profundamente. Após ler a sua resenha, fiquei com uma enorme vontade de conhecer a obra de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, além de desbravar livros de outros escritores italianos. Espero poder fazer isso em breve. Um abraço.