"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

domingo, 20 de novembro de 2011

DUAS MÃES

A querida Aeronauta escreveu em seu blogue este texto para mim e, indiretamente, para minha mãe, para todas as mães. Transcrevo-o aqui, porque as coisas bonitas devem estar em mais de um lugar, até mesmo nos sonhos.

"(Para Mayrant Gallo). As mães nunca deveriam morrer. Drummond disse algo assim, mas de uma maneira linda. Eu digo aqui, à minha maneira, como uma dor prenunciada, ensaiada, dolorida. Não, Deus, não permita que minha mãe vá embora, e de novo parafraseio tristemente Drummond. Toda vez que uma mãe conhecida morre, morro num soterramento plano. Em maio de 2010 senti um grande abalo. Em maio de 2010 morreu a mãe de minha amiga de infância, uma segunda mãe, e que se dava tão bem com a minha, de muitas e longas datas; ambas viram as duas meninas, eu e minha amiga, cresceram. Ambas conversavam sobre rádio e novela. Quando essa mãe querida, e tão parecida com a minha, morreu, eu sofri muito; era como se, Deus livre e guarde, morresse um pedaço de minha mãe, como se fosse um pré-ensaio de sua morte. Chorei de maneira multiplicada. Ontem morreu a mãe de um amigo. Uma mãe conhecida, que exercia, igualzinho à minha, o papel de mãe. Ambas foram apresentadas no Natal de dois mil e cinco, e estavam vestidas com um vestido parecido; logo se identificaram. Deram-se tão bem, e no mesmo instante já estavam trocando a receita de rabanada. Ontem soube de sua morte, e de repente senti a pontada da dor, o anúncio de uma dor ingrata, pérfida. Passei vários emails para o meu amigo, imaginava que a dor que ele sentia era imensa, pois que repercutia em mim de uma maneira terrivelmente incômoda e cruel. Disse Jorge Luis Borges, sabiamente, que devemos olhar para todas as pessoas como se elas já estivessem mortas. Faço esse exercício desde que li tal frase. E olho para mãe sempre com lágrimas nos olhos. E nem posso pedir a Deus para eu ir antes dela; não posso, pois de todas as saudades e dores que uma mãe pode sentir, essa deve ser a mais inimaginável e perversa."(AERONAUTA)

Foto: Maria José e sua amiga Carmelita, que não é a mãe da Aeronauta, mas a mãe de minhas irmãs.

3 comentários:

aeronauta disse...

Oi, Mayrant, sinto-me emocionada em ler meu texto aqui, nesse cantinho tão especial. Foi com lágrimas nos olhos também que escrevi tal texto. Abraços.

Lidi disse...

Mayrant, lindas as palavras do Gustavo, lindas as palavras da Aero. Você é mais do que merecedor desse conforto, desse afeto. Forte abraço!

Gerana Damulakis disse...

Receba um abraço.