"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

VÁ E VEJA, 9: RASTROS DE ÓDIO

Pouco se comenta, mas Rastros de ódio foi baseado num famoso romance de Alan Le May, publicado nos EUA em 1954 pela editora Harper & Brothers, com o título The searchers. E muito da estrutura narrativa do filme se deve à estrutura do romance. Mas isso pouco importa, pois é um dos maiores filmes de todos os tempos, pura arte: ambíguo, impiedoso, forte, inclassificável, verdadeiro, realista a ponto de até hoje incomodar e dividir platéias. E o seu final o resume: o destino do Homem é uma porta aberta, uma jornada da escuridão para a luz, do embotamento para a consciência, que foi o que aconteceu com o Tio Ethan, cujas convicções se esfumaçaram, ao fim. O grande personagem é aquele que se transforma, mas sem panfleto, naturalmente, de acordo com a experiência sofrida e com a lógica narrativa, sem a pretensão de mudar nem as pessoas (os espectadores), nem o mundo (a História). Já vi umas oito ou dez vezes e verei tantas mais! Classificam-no, erroneamente, como western ou bangue-bangue. Na verdade, é um grande drama humano, localizado num cenário hostil e implacável, o Oeste Selvagem. Os melhores filmes deste gênero, aliás, ultrapassam o próprio gênero: além de Rastros de ódio, Matar ou morrer, Hombre, Os imperdoáveis, Galante e sanguinário, Céu amarelo, Os brutos também amam, O homem que matou o facínora, e tantos outros. Assistir a estes filmes sob a ótica reducionista da fórmula "tiros, socos e ataques de índios" ou sob o crivo do multiculturalismo, que pretende idealizar o mundo, consequentemente os personagens, é atestar o quanto se desconhece o que seja Cinema, especialmente o Cinema dos Grandes Diretores.

3 comentários:

Anônimo disse...

Quando nada mais der certo, eis os clássicos para resgatar não uma, mas duas noites (que Safo nos abençoe). Aquele abraço.

Unknown disse...

Salve, Mayrant.
Precisaria de duas primaveras, no mínimo, para falar do conjunto de alusões que esse grande drama encerra.
Belíssima escolha. O filme merece.

"...quando tudo mais falhar, poderemos chicotear os olhos dos cavalos
E fazê-los dormir e chorar..."(James Douglas Morrison).

Dênisson Padilha Filho.

Lidi disse...

Assisti a este filme. Muito bom mesmo. Abraço, Mayrant.