Se há um gênero de filme em que os americanos são insuperáveis é a narrativa de rito de passagem da adolescência para a idade adulta. Podemos arrolar facilmente uns dez filmes importantes no gênero produzidos nos EUA. Mas três se destacam: Juventude transviada (Rebel whitout a cause, 1955), de Nicholas Ray, Loucuras de verão (American graffiti, 1973), de George Lucas, e O selvagem da motocicleta (Rumble fish, 1983), de Francis Ford Coppola.
Se o tom do primeiro é de rebeldia e tédio, o do segundo é de indecisão e humor, e o do terceiro, de violência e desorientação. Nos três, porém, os jovens estão transitando: já não são mais crianças, mas ainda não são adultos. Falta algo, talvez segurança, certeza ou simplesmente a capacidade de conciliar a diferença individual com o padrão coletivo. No filme de Ray a fuga da existência vazia e sem horizontes se dá através das noites de farra e pegas automobilísticos, até que um dos participantes morre, e o sonho muda de rumo, para convergir noutra morte, ainda mais estúpida, porque cunhada no erro. No início do filme, num ato de rebeldia da rebeldia o personagem de James Dean bebe leite, numa cena que se tornou célebre e que, em geral, o público não compreendeu. O desfecho, preparado com rigor ao longo da narrativa, parece afirmar que crescer, tornar-se adulto, é o correlato de acordar para a própria vida.
No filme de Lucas, o dilema existencial se resolve numa única noite em que os personagens transitam insones pelas ruas de uma pequena cidade interiorana. Mais uma vez, o pega de automóveis é o emblema de uma transmutação, mas, embora haja ainda um acidente, ninguém morre: o desastre, citação clara ao filme de Ray, serve como um baque, que desperta os personagens do sonho acordado de uma noite inteira, mas sem feri-los gravemente: a vida é outra coisa, e sérias decisões precisam ser tomadas, só isso.
No filme de Coppola, num preto e branco comovente, que a música quase abstrata intensifica ao máximo, tornando-o onírico, os personagens vivem à sombra do Motoqueiro, espécie de herói da juventude da cidade. Forte, bom de briga, inteligente, sensível, capaz de se dar bem em tudo, ele só não é exitoso consigo mesmo: vive em crise e despreza a influência que exerce sobre os mais jovens. Enquanto todos querem imitá-lo, especialmente seu irmão, ser quem ele é, o Motoqueiro, de sua parte, quer ser outra pessoa. Não há mais pegas, nem acidentes de automóveis: o emblema de mudança é mais sutil e poético e, não sem ironia, conduz a um final ambíguo, entre a dor e a redenção. O Motoqueiro reina e reinará sempre, apesar de tudo. Antes pelo seu heroísmo, pelos seus atos, agora pelo que fizeram com ele, lição que seu irmão Rusty James absorve e com a qual, finalmente, cresce.
Três belos filmes sobre a juventude, três eficientes ritos de passagem, três olhares sobre uma época que ninguém esquece e que, perdida, jamais será recuperada, a não ser pela memória, que é o que resta, até que chegue a morte.
Se o tom do primeiro é de rebeldia e tédio, o do segundo é de indecisão e humor, e o do terceiro, de violência e desorientação. Nos três, porém, os jovens estão transitando: já não são mais crianças, mas ainda não são adultos. Falta algo, talvez segurança, certeza ou simplesmente a capacidade de conciliar a diferença individual com o padrão coletivo. No filme de Ray a fuga da existência vazia e sem horizontes se dá através das noites de farra e pegas automobilísticos, até que um dos participantes morre, e o sonho muda de rumo, para convergir noutra morte, ainda mais estúpida, porque cunhada no erro. No início do filme, num ato de rebeldia da rebeldia o personagem de James Dean bebe leite, numa cena que se tornou célebre e que, em geral, o público não compreendeu. O desfecho, preparado com rigor ao longo da narrativa, parece afirmar que crescer, tornar-se adulto, é o correlato de acordar para a própria vida.
No filme de Lucas, o dilema existencial se resolve numa única noite em que os personagens transitam insones pelas ruas de uma pequena cidade interiorana. Mais uma vez, o pega de automóveis é o emblema de uma transmutação, mas, embora haja ainda um acidente, ninguém morre: o desastre, citação clara ao filme de Ray, serve como um baque, que desperta os personagens do sonho acordado de uma noite inteira, mas sem feri-los gravemente: a vida é outra coisa, e sérias decisões precisam ser tomadas, só isso.
No filme de Coppola, num preto e branco comovente, que a música quase abstrata intensifica ao máximo, tornando-o onírico, os personagens vivem à sombra do Motoqueiro, espécie de herói da juventude da cidade. Forte, bom de briga, inteligente, sensível, capaz de se dar bem em tudo, ele só não é exitoso consigo mesmo: vive em crise e despreza a influência que exerce sobre os mais jovens. Enquanto todos querem imitá-lo, especialmente seu irmão, ser quem ele é, o Motoqueiro, de sua parte, quer ser outra pessoa. Não há mais pegas, nem acidentes de automóveis: o emblema de mudança é mais sutil e poético e, não sem ironia, conduz a um final ambíguo, entre a dor e a redenção. O Motoqueiro reina e reinará sempre, apesar de tudo. Antes pelo seu heroísmo, pelos seus atos, agora pelo que fizeram com ele, lição que seu irmão Rusty James absorve e com a qual, finalmente, cresce.
Três belos filmes sobre a juventude, três eficientes ritos de passagem, três olhares sobre uma época que ninguém esquece e que, perdida, jamais será recuperada, a não ser pela memória, que é o que resta, até que chegue a morte.
4 comentários:
O Selvagem da Motocicleta é mesmo um filme único, um marco na juventude de cada um, ou de quase cada um, porque tem gente que parece nunca ter sido jovem.
bjs.
O filme de Coppola me é especialmente caro. Revejo-o sempre, num misto comovedor de dor e encantamento. Ray é maravilhoso, Lucas é a surpresa, pois não imaginara seu apreço e entusiasmo pelo filme (conhece-o apenas de referência e de cenas soltas, exibidas aqui e ali na tevê aberta). Talvez um quarto filme se some a essa fina seleta: "Jovem, loucos e rebeldes" (1993), de Richard Linklater. Parece (e é)debitário dos três longas mencionados. Arrola rebeldia, humor, violência (num grau menor, verdade), desorientação, e por fim, indecisões, de que a vida adulta é outra coisa, e mais feia. É isso. No mais, aquele abraço.
Dicas anotadas. As tuas e a do Anônimo. Abraço aos dois.
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