Nem mesmo os passarinhos tristes
Autor: Mayrant Gallo
Editora: Multifoco (RJ)
Páginas: 150
Valor: R$30,00
Um livro de minicontos. Histórias breves, rápidas, poéticas. Algumas não vão além de uma linha, outras cobrem uma página inteira. Registro lírico, sarcasmo, ironia, crueldade, humor. Há de tudo um pouco. E, em tempo de Copa do Mundo, eis uma visão nada otimista do país do futebol:
“Quando o sol chegou a pino, e os jogadores abandonaram o campo, entraram os três cavalos e, com os rabos abanando, se dispuseram a devorar o resto”. (ANIMAIS).
Embora muitos acreditem que o miniconto é um gênero recente, não é. No mundo árabe, o miniconto é arte literária há pelo menos mil anos, e talvez o primeiro livro de minicontos do Ocidente tenha mais de um século: Histórias naturais, do francês Jules Renard, de 1896. No Brasil, ganhou impulso nas duas últimas décadas e virou febre, moda, onda, como queiram chamar, e tem em Dalton Trevisan o seu maior cultor. Kafka, Cortázar e Brecht também se exercitaram no miniconto.
Em Mayrant Gallo, que costuma ressaltar a superioridade da poesia sobre a prosa, as historietas cunham uma linguagem que forçosamente, para segurar o leitor, mescla as duas formas, confundindo-as:
“Um homem queria evitar o vinho, ir além, vencer, contornar as ruínas... Mas tudo o que conseguiu foram três filhas.” (PASSAPORTE FALSO)
Ou neste enigmático PÔQUER: “As mãos que guardavam o baralho eram a mesmas que lascaram o lacre e distribuíram as cartas.”
Como afirma o escritor Carlos Ribeiro, na orelha do volume, “Mayrant Gallo tem nas entrelinhas a sua grande vocação”. Diz e diz um pouco mais sem dizer. Que o leitor se alimente. Ou se intrigue.
UM JORNAL QUALQUER
7 comentários:
Viva!!
Parabéns!!
Conheço o livro de cabo a rabo e posso afirmar: obra de primeira qualidade. Quem ainda não conhece os minicontos do Mayrant, não deve perder a oportunidade de ler este seu novo livro. Não vai se arrepender. Em cada página, um deleite, ora feito de surpresas ora de inquietações: histórias repletas de ironia, lirismo, encantos. Enfim, ótima leitura. A dica está dada.
Abraços.
Muito que bem! Aquele abraço.
Parabéns, pela publicação, Mayrant. Descobri no susto. Mas torço pela divulgação (entre em contato com O BULE - coisaprobule@yahoo.com.br).
Mayrant, você acha que um post como esse aqui embaixo, chamado Fêmea, pode ser entendido como um miniconto:
Na cabeça, o nó sufoca o resto do corpo e bate no cérebro feito um martelo sobre a carne de um bife. O bife fêmea, de tumor ainda que benigno na mama esquerda, e que, assim como as pernas e as ideias, não liberta a presa e a mantém sob custódia, exigindo, outra vez, da junta médica, as eventuais certidões de que há vida em Marta, em Marte e antes da morte.
Considero sim, Bípede, um miniconto. Do gênero "de atmosfera", que confere a uma "cena" algo linguagem poética, confundindo-se com o poema em prosa.
Mayrante, obrigada pela opinião :)
Estou pensando em organizar os meus textos. Sei lá. Vamos ver...
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