"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

sábado, 1 de maio de 2010

GRADATIVA EXCLUSÃO DA LITERATURA

Aquilo que o Governo chama "cultura" é o que usualmente chamamos Arte: Literatura, Música, Pintura, Escultura, Arquitetura, Teatro, Fotografia, Dança, Cinema, Quadrinhos. Há ainda a "arte popular", com suas manifestações peculiares, suas circunstâncias regionais específicas e suas escolhas estéticas, do mais simples ao mais complexo.

E é por isso que me espantei de ver que, na capa da Nova Lei da Cultura: material informativo sobre o projeto de lei que cria o programa nacional de fomento e incentivo à cultura, não se representa a Literatura. Ora, a literatura, como manifestação artística (ou, se preferirem, cultural), é tão antiga quanto o homem. Nasceu nas paredes das cavernas, com as pinturas rupestres, que são, grosso modo, narrativa e poesia, as duas essências básicas da literatura. Posteriormente, os "desenhos" se transformaram em palavras, frases, textos, os gêneros literários como os conhecemos hoje: poesia, conto, romance etc.

A ausência da Literatura ali será uma exclusão entre tantas inclusões? Talvez sim e talvez não, pois, dentro do livreto da Nova Lei, há uma referência discreta à Literatura, na seção em que se mencionam os novos fundos setoriais: Fundo setorial do livro, leitura, literatura e humanidades. Pouco, porém. Muito pouco. E imprensada entre pesos pesados da tão badalada "economia da cultura".

É inevitável, portanto, que eu me lembre de T. S. Eliot, quando ele afirma que uma sociedade que não lê literatura tende a decair e desaparecer. Sem dúvida, pois de que outro modo poderemos refinar nosso pensamento, se não através da poesia e das narrativas, que, quanto mais elevadas, mais benéficas ao homem, mais "educativas", mais libertadoras? Garanto que não será através do jornalismo-verdade. E é ainda T. S. Eliot quem diz que não devemos descer a arte ao nível do povo, mas elevar o povo ao nível da arte.

Essa é uma proposta ousada, que faz da Arte e da Educação uma coisa só. Sem uma, a outra não existe ou existe parcialmente. Quanto à Cultura, ela sempre existirá, pois meu sapato é cultura, um gesto é cultura, uma lata de lixo é cultura. Mas só a Arte é Arte.

Por isso sempre defendi que o ministério deveria ser esse: Ministério da Educação e das Artes. Enquanto não for assim não conseguiremos nos "elevar". Continuaremos a ser essa sociedade que rasteja.

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