"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

domingo, 21 de fevereiro de 2010

NOVELAS IMORTAIS, 2

O escritor Carlos Barbosa, autor de A dama do velho Chico (Bom Texto, 2002), postou aqui no blogue um comentário em que confessa ter sentido falta da novela As catilinárias, da belga Amélie Nonthomb (um relato que ambos apreciamos) no texto Novelas imortais.

Ele tem razão, foi uma falta grave, especialmente se levarmos em conta dois aspectos: 1) o fato de que a novela não goza em nosso tempo de muita popularidade, suplantada que é pelo conto, num extremo, e pelo romance, no outro, e só por isso a autora belga merecia ser citada com louvor; e 2) que, sendo esta obra tão recente, entrevemos uma discreta reação de sobrevivência para este gênero, que se recusa a ser conto e não ambiciona se rivalizar com o romance. Admito, portanto, a minha falha, e junto a ela arrolarei outras, não menos graves, e ciente de que, ao transcrevê-las aqui, estarei cometendo outras.

Nos dias que se seguiram ao comentário do Carlos, e conforme fui olhando para as prateleiras das estantes e para dentro de minha cabeça, inúmeras novelas importantes me "acorreram", como se reclamassem, por elas mesmas, a sua presença e o seu prestígio: Ardabiola, de Ievgueni Ievtuschenko, A volta do parafuso, de Henry James, A herança e Bola de sebo, ambas de Maupassant, Olha para o céu, Frederico, de José Cândido de Carvalho, Contramão, de Antônio Olavo Pereira, O mandarim, de Eça de Queiros, O terror, de Arthur Machen, O amante fantasma, de Vernon Lee, Sem sangue e Seda, ambas de Alessandro Baricco, Do mais longe do esquecimento, de Patrick Modiano, A ilha no espaço, de Osman Lins, Férias na neve, de Emmanuel Carrère, O jardim de cimento, de Ian McEwan, Crônica de uma morte anunciada, de Gabriel García Márquez, O perseguidor, de Julio Cortázar, O sul & Bene, de Adelaida García Morales, Carlota Fainberg, de Antônio Muñoz Molina, Benito Cereno, de Melville, O coração nas trevas, de Conrad, O segredo de Brokeback Mountain, de Annie Proulx, Assim diz Lilá, de Chimo, O sonho de Voltaire, de Jacques Chessex, A pérola, de John Steinbeck, Primeiro amor e Companhia, ambas de Samuel Beckett, O amante e Moderato cantabile, ambas de Marguerite Duras, A outra mulher e Porte de arma, ambas de Emmanuèle Bernheim, Pena de morte, de Maurice Blanchot, A seguinte história, de Cees Nooteboom, Do amor ausente, de Paulo Roberto Pires, Bruges, a morta, de Georges Rodenbach, A caça aos patos, de Hugo Claus, Mademoiselle cinema, de Banjamim Costallat, A virgem e o cigano e A raposa, ambas de D. H. Lawrence, As possuídas (ou Mulheres imperfeitas), de Ira Levin, Noturno indiano, de Antonio Tabucchi, O pastor, de Frederick Forsyth, 1933 foi um ano ruim, de John Fante, A marca e O outro gume da faca, ambas de Fernando Sabino, Luna caliente, de Mempo Giardinelli, A invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares, O estrangeiro, de Camus (essa não foi um esquecimento, simplesmente a prescindi em favor de A queda, pois não quis, naquele momento, citar mais de uma novela de um mesmo autor), Não haverá mais dores nem esquecimento, de Osvaldo Soriano, Dáfnis e Cloé, de Longo, Todas as manhãs do mundo, de Pascal Quignard, Com o diabo no corpo e O baile do conde d'Orgel, ambas de Raymond Radiguet, Os vagabundos, que reúne três novelas de Górki, O assalto ao banco Levasseur, de Emmanuel Robles, Bonequinha de luxo, de Truman Capote (e acho que a Bípede Falante vai gostar particularmente desta minha lembrança, que vem reparar um intolerável esquecimento), O destino de um homem, de Mikhail Cholokhov, O cavalheiro de São Francisco, de Ivan Bunin, Incidente na estação Krietchétovka, de Soljenitsin, A estepe, de Tchekhov, A exposição das rosas, de Örkény, e um punhado de novelas de Tolstoi, com destaque para A morte de Ivan Ilitch e Senhores e servos, e de Balzac, autor de obras-primas como Uma paixão no deserto.

Quanto às que ficaram ausentes ou esquecidas, esclareço que não é porque não sejam importantes. Simplesmente não foram citadas, porque não podemos totalizar coisa alguma nesta vida, assim como não é possível alcançar o azul do céu.

6 comentários:

Futeboleiros disse...

Mayrant, suas duas listas terminam provando a potência das novelas na história da literatura. Recentemente houve até um concurso nacional específico para novelas, se não me engano, realizado por instituição do Paraná. Quando publicada "Moinhos" será incorporada automaticamente nesse cânone, por sua estupenda qualidade, já devidamente premiada. Abr. (carlos barbosa)

Bípede Falante disse...

Uma lista fantástica!
Eu gosto muito de novelas, até mais do que romances.

Lidi disse...

Mais um post que já imprimi e anexei à minha lista de indicações mayrantianas. Um abraço.

Georgio Rios disse...

Bem , como não posso deixar de dizer, acabo de decobrir a bibioteca de Alexandrias nestes post que se complementam. Um leitor que visite estes dois textos, com certeza,terá a direção precisa do que há de melhor na literatura.Minha lista, como a de Lidi, cresce com estas indicações.

Silvestre Gavinha disse...

Mayrant, verdade que nada se conclui, mas você parece ler pensamentos dos teus leitores.
Achei nesta lista muitas novelas em que pensei quando da leitura da tua lista anterior.
E que prazer achá-las aqui.
As outras vão para minha lista de desejos.
Marie

Anônimo disse...

Serei realista: uma vida não bastará para ler todos esses nomes. Alguns soam familiar, mas de outros tempos, de um tempo em que poderia ser amigo do rei, com o livro que pudesse escolher. Resta-me o acaso, essa entidade teimosa e quase sempre generosa, e me deparar, fortuitamente, com cada item sagrado. Aquele abraço.