"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

SÍMBOLO E ESPÍRITO DE NATAL


VERSOS DE NATAL

Espelho, amigo verdadeiro,
Tu refletes as minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados.
Espelho, amigo verdadeiro,
Mestre do realismo exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!

Mas se fosses mágico,
Penetrarias até o fundo desse homem triste,
Descobririas o menino que sustenta esse homem,
O menino que não quer morrer,
Que não morrerá senão comigo,
O menino que todos os anos na véspera de Natal
Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta.

MANUEL BANDEIRA (1886-1968). Um dos maiores poetas de língua portuguesa e do mundo, sem sombra de dúvida. Sua aparente simplicidade disfarça a dor humana, a ironia que mantém a espécie viva e o sentido de refinamento que marca toda a sua obra. O poema acima data de 1939 e foi publicado no volume Lira dos cinquent'anos.

2 comentários:

Silvestre Gavinha disse...

Grande verdade Mayrant. E que linda poesia. Sempre adorei Bandeira. Feliz Natal e um Ano Novo cheio de realizações e sucesso,eu amigo.
Marie.

RAILTON SANTOS disse...

O espelho é um amigo tão verdadeiro, que às vezes assusta. Bandeira foi muito corajoso ao escrever estes versos e aceitar as transformações do tempo.
Parabéns pela excelente e oportuna escolha do poema!

Railton Santos