"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

domingo, 22 de novembro de 2009

A PRESENÇA DE GLORINHA

O dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues sempre destinou um lugar de destaque às mulheres em seu teatro, principalmente quando se propunha a representar a sexualidade feminina. Valorizadas por Rodrigues, essas personagens provocaram e ainda provocam o público através de suas atuações, que, inevitavelmente, vão de encontro ao discurso hegemônico sobre a sexualidade. Este, só para relembrarmos, teimava e ainda insiste em calá-las, podando-as de qualquer experiência longe da constante vigília social. Entretanto, mulheres brasileiras, tais como Pagu e Leila Diniz, consideradas à frente de seu tempo, ousaram transgredir as normas vigentes e, assim, anteciparam um pouco da liberdade de que agora dispomos.
No teatro de Rodrigues encontraremos muitas personagens que antecedem, também, a Revolução Sexual da década de 60, preconizando uma mulher mais livre, mesmo que ficcionalmente, do cerceamento social que só as “libertava” em um espaço fechado e velado por todos. Como sabemos, anterior a esta década, foram buscados os direitos igualitários de voto, a inserção da mulher no mercado de trabalho e a proposição de uma maior liberdade sexual com o surgimento da pílula anticoncepcional (BRAGA, 2005), a qual realizaria o que Freud já havia descoberto: “O prazer como a força vital do sexo” (FREUD apud SARAIVA, 1960, p. 58).
Amor, sexo, erotismo e sensualidade foram os temas mais visíveis da década de 60, classificada pelos americanos de permissive society. Todas as permissividades desse momento em relação às representações acerca da sexualidade fizeram com que a sociedade acreditasse que o passado era muito mais decente do que o presente. ”Nunca um assunto foi tão abundantemente tratado e retratado“ (SARAIVA, 1960, p. 57). Todavia, Nelson já tratava desses temas muito antes da década de 60, desde 1941, para ser mais clara, quando escreveu sua primeira peça, A mulher sem pecado.


Para continuar lendo o texto de SOLANGE SANTOS SANTANA, acesse: A presença de Glorinha. A autora é graduada em Letras pela UEFS e desenvolve pesquisa sobre os diálogos entre Gil Vicente e Nelson Rodrigues.
Pintura: Retrato de Madame Allan Bott, de Tamara de Lempicka (1898-1980), pintora polonesa.

Um comentário:

Lidi disse...

Mayrant, fiquei muito feliz em ver o texto da minha colega de turma e amiga Sol aqui no Não Leia! Parabéns para ela e para você, que é super atencioso com os seus ex-alunos. Que sorte a nossa em tê-lo como, além de eterno mestre, um amigo. Abraço.