"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

terça-feira, 7 de março de 2017

VÁ E VEJA, 26: Marius & Fanny

"Fanny", de Marc Allegret, 1932.
No caso de alguém supor que é um único filme, esclareço que são dois; na verdade, três: César completa a chamada Trilogia de Marselha, baseada em peças do importante escritor francês Marcel Pagnol (1895-1974), que assina os roteiros. Os dois primeiros, já lançados no Brasil pela Colecione Clássicos, foram dirigidos, respectivamente, por Alex Korda e Marc Allegret. Inclusive, os fãs já têm a conclusão da trilogia, com o lançamento de César, também à venda no site.

Datados do início do cinema sonoro, 1931 e 1932, estes dois filmes surpreendem pela qualidade praticamente em todos os aspectos. Roteiro e direção excelentes, personagens vivos e humanos, magnificamente interpretados pelos atores, cenário preciso, fotografia limpa, alcance atemporal de motivos, com assuntos ainda atuais e debatidos de forma clara e proveitosa.

Cada filme recai sobre um dos personagens principais da trilogia. Marius é filho de César, dono de um bar, e tem uma leve atração por Fanny, filha da dona da peixaria do cais. Em Marius, o personagem se divide entre o amor por Fanny e a atração insuportável por viajar, a bordo de algum navio. Quando surge a oportunidade, ele tem que escolher entre Fanny e o mar. Em Fanny, a garota segue seu martírio, amando Marius e tendo que se desvencilhar ou aceitar outras propostas de casamento. César, centrado no pai de Marius, espécie de conciliador sentimental e cabeça pensante do cais, completa a trilogia e, provavelmente, ajusta as peças da trama ao fluxo da vida.

Cheios de humor e vida, Marius e Fanny são dois filmes imperdíveis para todos os cinéfilos que não se limitam a ingerir os enlatados hollywoodianos, em nada diferentes dos livros de estação, que, tão logo lidos (ou vistos), são esquecidos. Clássicos irretocáveis do cinema francês, Marius e Fanny reverberam e ecoam por dias em nossa percepção. São o que se espera de qualquer arte: que nos alimente e transforme, que nos encante e revigore, que destrua ou refine as nossas convicções.

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