"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

POETA-POEMA, 69: CZESLAW MILOSZ

Capa da Veja desta semana, com citação de Czeslaw Milosz.
| Expor um poeta, defini-lo com um só poema.
Despertar com ambos alguma consciência. |

DÁDIVA

Um dia tão feliz.
A névoa baixou cedo, eu trabalhava no jardim.
Os colibris se demoravam sobre a flor de madressilva.
Não havia coisa na Terra que eu quisesse possuir.
Não conhecia ninguém que valesse a pena invejar.
O que aconteceu de mau, esqueci.
Não tinha vergonha ao pensar que fui quem sou.
Não sentia no corpo nenhuma dor.
Me endireitando, vi o mar azul e velas.

CZESLAW MILOSZ (1911-2004). Poeta e romancista polonês, Prêmio Nobel de Literatura de 1980. Pouco publicado no Brasil, mas muito cultuado em outros países, é referência de entrada para a forte literatura do Leste Europeu, que legou ao mundo, de Kafka a Szymborska, as vozes do pessoal e da diferença. Romances publicados no Brasil: A tomada do poder (Nova Fronteira, 1988) e O vale dos demônios (Francisco Alves, 1982). Poema extraído de Não mais (UnB, 2003), em versão de Henrik Siewierski e Marcelo Paiva de Souza.

Um comentário:

Carlos Vilarinho disse...

Sensacional. Uma dádiva, sem dúvida.