"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

sábado, 12 de outubro de 2013

LEITURAS, 35: MATÉI VISNIEC

Edição brasileira, 2013.
Há quem arrote a plenos pulmões que não lê peças teatrais. Há quem diga também que o conto é um gênero menor, esquecendo-se de que dois dos maiores escritores de todos os tempos ― Guy de Maupassant e Jorge Luis Borges ― foram principalmente contistas. É, talvez ― mas sem pensar que o autor o fez de propósito, por provocação ―, com esta orientação às avessas que se deve entrar na leitura de Cuidado com as velhinhas carentes e solitárias (Attention aux vieilles dames rongées par la solitude, 2004), de Matéi Visniec. O contemporâneo autor romeno, e que já é um dramaturgo renomado, estabelece em quinze peças curtas, de um só ato, a fusão do dramático com o épico, e mostra o quanto o nosso mundo é estranho e absurdo. Em todos estes contos, narrados através do diálogo ou do monólogo, a intenção é inquietar o leitor e o obrigar a pensar. Se um homem não consegue deixar uma estação de trem, há alguma coisa errada, ou com ele ou com a realidade. E se uma garota e um cara pedem carona numa estrada, cada um por sua vez, e quando se falam é somente em vista de uma trepada, há alguma coisa que merece reflexão. Uma mulher grávida que se refugia no deserto; outra que não admite, na cama, que seu amante, após o ato, acenda um cigarro; uma garçonete que conhece mais o cliente que ele mesmo; um homem à procura de um lugar livre onde ser enterrado depois de morrer... Estas são algumas das histórias “cotidianas” de Matéi Visniec. Quem não foge ao diálogo e aprecia um monólogo não deve perder de se enriquecer com elas.

Também publicado na Verbo 21.

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