Edição brasileira, 2013. |
Há quem
arrote a plenos pulmões que não lê peças teatrais. Há quem diga também que o
conto é um gênero menor, esquecendo-se de que dois dos maiores escritores de
todos os tempos ― Guy de Maupassant e Jorge Luis Borges ― foram principalmente
contistas. É, talvez ― mas sem pensar que o autor o fez de propósito, por
provocação ―, com esta orientação às avessas que se deve entrar na leitura de Cuidado com as velhinhas carentes e
solitárias (Attention aux vieilles dames rongées par la solitude, 2004), de
Matéi Visniec. O contemporâneo autor romeno, e que já é um dramaturgo renomado,
estabelece em quinze peças curtas, de um só ato, a fusão do dramático com o
épico, e mostra o quanto o nosso mundo é estranho e absurdo. Em todos estes
contos, narrados através do diálogo ou do monólogo, a intenção é inquietar o
leitor e o obrigar a pensar. Se um homem não consegue deixar uma estação de
trem, há alguma coisa errada, ou com ele ou com a realidade. E se uma garota e
um cara pedem carona numa estrada, cada um por sua vez, e quando se falam é
somente em vista de uma trepada, há alguma coisa que merece reflexão. Uma
mulher grávida que se refugia no deserto; outra que não admite, na cama, que
seu amante, após o ato, acenda um cigarro; uma garçonete que conhece mais o
cliente que ele mesmo; um homem à procura de um lugar livre onde ser enterrado
depois de morrer... Estas são algumas das histórias “cotidianas” de Matéi
Visniec. Quem não foge ao diálogo e aprecia um monólogo não deve perder de se
enriquecer com elas.
Também publicado na Verbo 21.
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