"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

domingo, 13 de junho de 2010

DA VINCI E OS MINICONTOS

Da Vinci também escreveu seus minicontos. O que não é nenhuma surpresa, afinal de contas a Literatura e a Ciência, para homens como ele, tornam-se simplesmente contextos favoráveis à realização de seu gênio.

O ENFERMO

Estava um enfermo à beira da morte quando ouviu baterem à porta. Perguntou a um de seus servos quem o fazia, e o servo respondeu-lhe ser uma mulher que se chamava Madona Boa. Então o enfermo elevou os braços ao céu, agradeceu a Deus em voz alta, depois disse ao servo que a deixasse vir depressa, a fim de que pudesse contemplar uma boa mulher antes de morrer, porque em vida jamais havia encontrado nenhuma.

O DORMINHOCO

Foi dito a um homem que se levantasse do leito, porque o sol já estava alto, e ele respondeu:
"Se eu tivesse tão longas viagens e afazeres para realizar quanto ele, também já teria me levantado, porém, tendo a cumprir tão pouco caminho, não me levantarei ainda".

OS OLHOS DE ESTRANHA COR

Um homem disse a um conhecido:
"Tu tens os olhos alterados para uma cor esquisita!"
O outro respondeu que isso lhe sobrevinha com frequência.
"Mas tu não colocas nenhum remédio? E quando te acontece isso?"
"Toda vez que meus olhos veem teu rosto estranho! Pela violência recebida por tão grande desprazer, súbito eles empalidecem e mudam para uma insólita cor."

LEONARDO DA VINCI (1452-1519). As historietas acima integram o volume Sátiras, fábulas, aforismos e profecias (São Paulo: Hedra, 2008). A tradução é de Rejane Bernal Ventura.

Um comentário:

Bípede Falante disse...

Tem gente que não nasce com uma estrela, nasce com uma constelação.