Em meados dos anos 1980, Fernando Sabino idealizou para a editora Rocco uma coleção de literatura mundial clássica, intitulada Novelas Imortais. Ele ainda fazia, num texto discreto e objetivo, a apresentação de cada obra, através de uma breve notícia da vida do autor, as circunstâncias em que sua literatura ganhou notoriedade e uma rápida menção à trama, com suas convergências e divergências em relação ao gosto literário da época.
O primeiro título foi A fera na selva, do anglo-americano Henry James. Vieram a público depois O monge negro, de Tchekhov, Um coração singelo, de Flaubert, O homem da areia, de Hoffmann, Sílvia, de Nerval, O clube dos suicidas, de Stevenson, Bartleby, o escriturário, de Melville, Os sete enforcados, de Andreiev, e Margot, de Musset, este publicado em 1987 e com o qual a coleção repetinamente chegou ao fim. Uma pena. Em resumo: três franceses, dois russos, um alemão e três autores de língua inglesa.
Três idiomas vastos e tradicionalmente respeitados na literatura ocidental ficaram sem representantes na coleção: o italiano, o português e o espanhol. Creio que Fernando Sabino tinha em mente contemplar outros autores de outros idiomas, mas, por algum motivo, a coleção teve que se interromper.
Penso em novelas (gênero que devemos definir aqui, grosso modo, como "romances breves" ou "contos longos") do porte de O alienista, de Machado de Assis, Alves e cia., de Eça de Queiroz, Noites brancas, de Dostoiévski, O capote, de Gógol, O tenente Quetange, de Tynianov, Primeiro amor, de Turgueniev, Aura, de Carlos Fuentes, Filhotes, de Vargas Llosa, Ninguém escreve ao coronel, de García Márquez, Ethan Frome, de Edith Wharton, Juventude, de Conrad, Jana e Joel, de Xavier Marques, Uma vida em segredo, de Autran Dourado, O simples coronel Madureira, de Marques Rebelo, O automóvel, de Herberto Sales, A espingarda de caça, de Yasushi Inoue, A morte e a morte de Quincas Berro d'Água, de Jorge Amado, Agostinho, de Alberto Moravia, Sombras de julho, de Carlos Herculano Lopes, Perseguição e cerco a Juvêncio Gutierrez, de Tabajara Ruas, O urso, de Faulkner, A metamorfose, de Kafka, Fup, de Jim Dodge, O ovo de ouro, de Tim Krabbé, A família Tóth, de Órkény, Miss Corações Solitários, de Nathanael West, Uma paixão no deserto, de Balzac, O grande deus Pan, de Arthur Machen, Adeus, Mr. Chips, de James Hilton, A infância de um chefe, de Sartre, Isabelle, de Gide, Genitrix, de Mauriac, A queda, de Camus, Bom-dia, tristeza, de Sagan, Carmen, de Mérimée, A dançarina de Izu, de Kawabata, Quem perde ganha, de Graham Greene, O mal negro, de Nina Berberova, A hora da estrela, de Clarice Lispector, Ontem, de Agota Kristof, Mimi vai à guerra, de Paulo Francis, As pedras no caminho, de Ruth Randell, O poste a vapor, de Molnár, Na montanha, de Dion Henderson, O retrato de Jennie, de Robert Nathan, A senhora Caliban, de Rachel Ingalls, Balada do café triste, de Carson McCullers, e outros, muitos outros. Do Romantismo ao Contemporâneo.
Que coleção magistral seria essa! Textos breves, contundentes e em formato para se portar no bolso ou na bolsa. Uma coleção rara, que iria satisfazer aos leitores exigentes e também iniciar outros, mais jovens, em obras selecionadas, variadas e de inegável qualidade literária. Que fique a deixa, para algum editor ao mesmo tempo ousado e maluco, "talvez porque o mundo ultimamente ficou óbvio demais".
3 comentários:
Que bom perceber que já li algumas das novelas indicadas por você. As que não li, acabaram de entrar para a lista das leituras obrigatórias. Já até imprimi este post. Adorei.
Mayrant, que lista maravilhosa. Por pouco nāo me meto no Estante Virtual para achar todos.
Você brinda teus leitores com presentes maravilhosos.
Um abraço
Marie.
Meu caro, lembro-me de nossas conversas sobre a lista de novelas imperdíveis. Finalmente vc escreveu sobre o tema. Bacana, isso. Nada melhor para ler durante o carnaval. Mas senti a falta de "As catilinárias", de Amélie Nothomb. Abr. e parabéns pelo impecável blogue. (carlos barbosa)
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