"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

segunda-feira, 23 de março de 2009

CATÁLOGO MAIGRET, 1

AS FÉRIAS DE MAIGRET (Les vacances de Maigret) foi publicado em 1948. O comissário, gozando férias em Sables-d’Olonne com a esposa, vê sua rotina mudar radicalmente quando a Sra. Maigret é hospitalizada às pressas para uma cirurgia. Este evento fortuito altera o cotidiano ocioso de Maigret, que, mesmo desinteressado dos acontecimentos que o enredam e insatisfeito com o rumo de sua diletante investigação, vai solucionar mais um mistério e agarrar mais um criminoso. Neste romance, que é um dos melhores da série, Simenon reflete sobre as conseqüências do ciúme amoroso na vida de um homem, bem como sobre o aprisionamento existencial a que o excesso de beleza pode conduzir uma mulher. Uma das melhores personagens do livro – e em torno da qual toda a trama se constrói – ironicamente não aparece nem para Maigret nem para o leitor. Quando afinal se obtém a chave que dá acesso aos seus aposentos íntimos, o romance termina. Tal característica faz deste relato um dos mais simbólicos e subjetivos já escritos por Simenon.

A BELA ADORMECIDA. "Vendo Maigret parado na soleira, Francis não fechara a porta. E o comissário voltou a entrar na casa, olhando para a pequena chave que tinha entre as mãos, a chave do quarto de cortinas fechadas, onde se ouvia a respiração regular de uma mulher adormecida."

GUARDADOS DA VIDA. "Um cheiro de coisa velha saía da gaveta, à qual viriam juntar-se as recordações de Lucile e o seu atestado de óbito."

MUNDO VORAZ. "Os Duffieux não tinham feito outra coisa, toda a sua vida, senão trabalhar e contar cada centavo. Na casa deles havia uma menina morta, sua filha, e, em vez de os deixarem com a sua dor, ninguém se inibia de lhes fazer as perguntas mais íntimas, enquanto os curiosos encostavam o nariz nas vidraças das janelas e os jornalistas os bombardeavam com flashes."

LÍMPIDO, PRECISO E POÉTICO. "– Nossa reverenda madre não demora... Sempre aquele roçar de saias, aquele entrechocar de rosários, o deslocamento de ar das toucas de asas reviradas."

Um comentário:

Georgio Rios disse...

apesar de conehcer pouco sobre o comissário, sei que Simenon imprimia primor as aventuras do velho detetive.Estou devendo a leitura deste volume.