Jean-Claude
Izzo (1945-2000) era contista, poeta e romancista. Autodidata, empregou antes
de tudo a intuição e, assim, filiou-se ao grupo dos grandes escritores
intuitivos franceses, dentre os quais os mais notáveis talvez sejam Jean Genet
e Céline. Nascido em Marselha, um dos mais antigos e importantes portos da
Europa, impregnou de sal e sol toda a sua obra, mesmo os romances policiais,
aos quais não falta certo tom de melancolia e desencanto, características
marcantes tanto de sua prosa quanto de seus versos. “Os marinheiros perdidos”
(Record, 2001), publicado originalmente em 1997, conserva esta moldura.
Concentra-se nos dias que se seguem à inércia do navio Aldebaran, retido no
porto de Marselha como garantia de pagamento das dívidas de seu proprietário. A
tripulação ou aceita um acordo, com indenização, ou fica à espera de um
desfecho mais propício, que, no entanto, pode demorar. Em meio a este impasse,
o capitão Aziz, seu imediato Diamantis e o marinheiro Nedim se aprofundam na
cidade, mesclam-se aos seus habitantes e veem, a pouco e pouco, suas vidas se
transformar. Em estilo rápido e direto, mas trespassado de poesia e refrações
psicológicas, Izzo escreve um romance marítimo sem mar. Os aforismos pontuam
toda a trama, numa espécie de advertência ao nosso tempo, marcado pelas
narrativas vazias: “No futuro, tudo existe, tudo é possível”. Enriquecem a
edição as ilustrações, inclusive de capa, do quadrinista brasileiro Flávio
Colin, de fama internacional e que, infelizmente, já não está entre nós, os
marinheiros perdidos.
Publicado originalmente na coluna Crítica Rasteira, da revista Verbo 21, em fevereiro de 2013.
Um comentário:
Deu vontade de ler. E bela capa.
Abraços.
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