Começou a SEGUNDA TEMPORADA de As aventuras de Nicolau & Ricardo: detetives.O primeiro miniconto, cujo título é Medo, está disponível na Seara do Gallo, www.verbo21.com.br.
Imagem: ilustração de Sidney Paget (1860-1908).
Se o livro é ótimo, mas a capa é feia, não há nenhum problema. Contudo, se o livro é ótimo e a capa é bonita, uma obra de arte, então temos dois motivos para celebrá-lo. Provavelmente, as pessoas conhecem Tubarão, de Peter Benchley, mais pelo filme, que, no entanto, apenas reproduz do livro a sua trama de horror; tudo o mais é descartado, especialmente a crise existencial e conjugal por que passa o chefe de polícia, e a descrição precisa do contexto socioeconômico e cultural que o anima, o lugar e a gente que se transforma em comida de tubarão. Além disso, Tubarão é um ótimo romance policial, do gênero serial killer. E com dois aspectos de exceção, que fazem dele um exemplar único: o assassino não é um homem, mas um animal, e a ação desloca-se da investigação do crime para a caçada deliberada ao assassino. Neste sentido, é uma citação direta ao extraordinário Mobydick, de Melville, sem a pretensão de se converter num ícone da literatura universal. A capa desta edição da Record consegue a proeza de ser ao mesmo tempo literal e impactante. Põe metonimicamente toda a praia na boca e no estômago da fera, que ganha prestígio de monstro lendário, diabólico.

"Numa cidade cujo nome jamais é dito, mas tudo indica tratar-se de Salvador. Três tiros ecoam entre os atabaques do candomblé, dezenas de mãos apertam o gatilho. É um verão esquisito; calor febril intercalado por tempestades furiosas como lágrimas de Iansã, na cidade mestiça magnetizada por superstições, paixões, fatalidades [...]