Culto o bastante para se exibir sem se fazer notar, mas insensato ao ponto de prescindir de alimentar relações que sabia consistentes e desinteressadas, mergulhava em livros e filmes por um motivo bem simples e nada sutil: para se afastar das pessoas.
Por traição, ressentimento ou despeito, esperava ser posto para fora de suas vidas, mais dia menos dia. E era por isso, aliás, que sempre perpetrava uma citação de efeito, a cada fala de sua autoria ou alheia: para despertar em volta, a um só tempo, ódio e inveja.
Assim, não era raro que, por este ou aquele motivo, fosse o centro das atenções, mesmo em ausência. Também o vetor das críticas, que ele próprio fazia questão de provocar, e o sangue da chacota, a correr forte e abundante.
As coisas iam assim, até que um dia uma mulher, introduzida não se sabia por quem no grupo de amigos que semanalmente se encontravam num bar do centro, sublevou-o tecnicamente e sem que precisasse lançar mão daquilo que de melhor a natureza a proveu.
Foi o suficiente para que ele agora, diante de Nicolau e Ricardo, chorasse como um menino.
Por traição, ressentimento ou despeito, esperava ser posto para fora de suas vidas, mais dia menos dia. E era por isso, aliás, que sempre perpetrava uma citação de efeito, a cada fala de sua autoria ou alheia: para despertar em volta, a um só tempo, ódio e inveja.
Assim, não era raro que, por este ou aquele motivo, fosse o centro das atenções, mesmo em ausência. Também o vetor das críticas, que ele próprio fazia questão de provocar, e o sangue da chacota, a correr forte e abundante.
As coisas iam assim, até que um dia uma mulher, introduzida não se sabia por quem no grupo de amigos que semanalmente se encontravam num bar do centro, sublevou-o tecnicamente e sem que precisasse lançar mão daquilo que de melhor a natureza a proveu.
Foi o suficiente para que ele agora, diante de Nicolau e Ricardo, chorasse como um menino.
MAYRANT GALLO. Miniconto do livro Nem mesmo os passarinhos tristes (inédito).
Imagem: cena do filme A lua na sarjeta (1983), de Jean-Jacques Beineix.
5 comentários:
Que bom que eles estão por aqui novamente!!!!Boa dupla
Mayrant, sempre bom ler sua prosa. Essa "série" já está toda escrita e vc a tem postado a conta-gotas por aqui? Vai virar livro?
abs, Fabricio
Jóia, e numa trama que escava meandros de uma realidade muito, muito próxima. Aquele abraço.
Sempre as mulheres...
Mayrant, adoro teus minicontos.
Adoro Nicolau e Ricardo.
Um abraço.
Elas têm este dom.
Esqueci de dizer que li o seu conto na revista Stalker. Tenho um exemplar em casa. preciso repassar.
abraço.
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