"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

VÁ E VEJA, 4

Em exibição nos cinemas, Horas de verão (L'heure d'été, França, 2008), de Olivier Assayas, bela e profunda reflexão sobre a dissolução das artes, da família, das tradições e das relações pessoais, que, pressionadas pelo mau-gosto do nosso tempo, cedem lugar às trivialidades e à valorização de uma existência pautada em critérios monetários e de êxito pessoal, no trabalho. Neste sentido, o filme promove um diálogo aberto com Assédio, de Bernardo Bertolucci, no qual um pianista, durante seu concerto para uma platéia seleta, vê sua música substituída por uma bola de futebol e o alvoroço que esta promove na sociedade. O auge de Horas de verão — e não por acaso sua cena final — se dá quando uma mocinha e seu namorado de momento pulam o muro e fogem da propriedade que pertenceu à avó da garota, reduto de pintores, bom-gosto artístico e acervo cultural, mas agora vazia, sem existência nem sentido, embora repleta de música, juventude, bebida e, obviamente, drogas. (As vontades mudam conforme o tempo, e os tempos, conforme as vontades.) Mas para onde vão aqueles dois? Que lugar procuram? Nenhum. Num mundo de padronizações e repetições, onde todos os países e todas as culturas se inspiram num único modelo, todos os lugares são o mesmo lugar. Franco, duro, lacônico e metafórico, Horas de verão só não é melhor porque não foi dirigido pelo mestre Eric Rohmer, que certamente o apreciou — se ainda está vivo e o assistiu.

5 comentários:

Hitch disse...

Rohmer está vivo em cada assertiva sobre o filme. É dele, e nosso também, tão valorosas palavras. Aquele abraço.

Bípede Falante disse...

Oi, Mayrant, o seu blog está cada dia melhor. Mas, sabe, não gostei muito desse filme. Achei um pouco caricato e nacionalista. O filho enraizado na França é quem chora a perda da mãe e o único a ter gestos generosos, como o de dar o belíssimo vaso para a empregada. Os outros dois são retratados como criaturas mais insensíveis que só querem dar no pé o quanto antes, como se não fosse justo alguém trilhar o próprio caminho em um lugar que não é sua pátria ou seu lar. Sei lá. Foi essa a impressão que mais colou em mim.
Abraço.
Bípede

Emmanuel Mirdad disse...

Mayrant! Recordei de vc no post de hj (19/09) lá no meu blog. Dê uma olhada! Abs,

olharmanauara disse...

Sem comentário, apenas para dizer que desci até o quarto azul de Simenon, entrei em todos os compartimentos, na cidade oculta, na cozinha do cão e nos seus meandros e nada de descobrir o link do jazz.
Sei que ensinou, mas me perdi!
Bem, para acessar a rádio chilena que lhe falei, siga: www.beethovenfm.cl . Há outras tão interessantes, a Antena 2, de Lisboa, www.rtp.pt; uma holandesa, de difícil contato, mas quase sem interrupção mercadológica, de nome Klara, esta: http://internetradio.vrt.be/radiospeler/v2_prod/wmp.html?qsbrand=31
Quando quero, e tenho tempo, um bom caminho, é a www.radios.com.br,vá em rádios mundias / música clássica e então surgem opções de todo o planeta, Tadjiquistão, Eslovênia; você chega onde quiser!

Senhorita B. disse...

Este filme é maravilhoso mesmo, Mayrant. Forte através do silêncio e original pela sua narrativa centrada nos objetos como marco de um mundo e um tempo esquecido.
Ótima indicação.
Abraços,
Renata