Depois foi ao banco, torrar o pouco de dinheiro que lhe restava.
Almoçou, cochilou por quinze minutos – ali mesmo no restaurante, a cabeça recostada à parede – e saiu para o trabalho.
A caminho, ao atravessar o semáforo, avistou do outro lado da rua uma pequena multidão em volta de um homem caído, coberto com um pano branco, os policias a controlar impacientes o ânimo de quem permanecia vivo e se deleitava em contemplar a corporificação da morte. Foi adiante, mal dando importância ao fato, sem saber que esta havia sido a sua última chance de agradar a morte – admirando-a.
Jamais chegou a ler aquele livro usado, comprado a preço ínfimo e cujas páginas ainda se mantinham grudadas...
Foto: cena de Cloverfield (2008), de Matt Reeves.
3 comentários:
Sinto-me preso a vagas sensações, e nelas me apoio. Uma delas se encontra aqui, neste espaço, atrelada a uma dívida que nunca cansarei de pagar. Aquele abraço.
Como já sabes, ainda não li "O inédito de Kafka". Mea culpa.
Tenho certeza já que vou gostar.
Mesmo ele sendo: mais forte, mais longo, mais sério, mais pretensioso. Não são atributos que desgosto, nem em livro, nem em filme e nem em ninguém. Desde que, logicamente, venham embrulhando algo.
Mas tenho que dizer que teus "mimos" são já suficientes para toda essa cobertura. Ainda não sei como é quando escreves mais.
O teu "menos"(longo, forte, sério e pretensioso) avança. E muito.
Adorei esse aqui.
Já te disse também: essa alegoria da paquera ou jogo de sedução com a morte, me cai muito bem.
Mayrant, adorei este mini-conto! Estará em "Nem mesmo os passarinhos tristes"? Não vejo a hora destes livros saírem da gaveta! Abraço.
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