Nicolau e Ricardo entram num boteco da Barra, pedem uma bebida e tentam relaxar. Não estão para muita conversa. Tiveram um dia difícil, cheio de interrogatórios inúteis, de pistas falsas, de testemunhas dissimuladas, de suspeitos sarcásticos. Meio chutado, embora o tom grave, quase filosófico, Nicolau diz:
“Há no fundo de toda mulher o desejo repulsivo de bancar a prostituta”.
“Mesmo sua mãe, sua mulher, suas filhas?”, Ricardo brinca.
Nicolau se levanta bruscamente, não diz uma palavra sequer e, sem olhar o amigo, sai. São os nervos. Os nervos. Há três semanas que Nicolau e Ricardo chafurdam num caso de difícil solução, por causa do persistente silêncio de algumas mulheres.
Madrugada. As primeiras manchas de sol.
O dono do boteco baixa com estrépito uma das portas de aço, e Ricardo ainda está lá, diante do seu copo...
Continua amanhã. Quadro: Aves noturnas (1942), de Edward Hopper.
2 comentários:
Notável. Conhecera o quadro de outras postagens, a declaração de Nicolau, de outras ausências. Aquele abraço.
Mayrant,
Nicolau está apaixonado, questionando sua sexualidade ou apenas em crise com suas idades????
Ele está cada vez mais humano.
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