Nicolau e Ricardo perseguem um delinqüente que, de súbito, à porta da delegacia, escapou de suas mãos.
Depois de uma quadra de perseguição e fuga em meio ao trânsito de pessoas e carros, Nicolau, que é mais velho e há tempos esqueceu os exercícios físicos, pára para tomar fôlego. Ricardo, que ainda poderia continuar, faz a mesma coisa. E ficam os dois, curvados com as mãos nos joelhos, olhando o chão e respirando. Ouve-se um alarido de freios e em seguida o baque surdo de um impacto. Ricardo sorri. Correm na direção do acidente.
“Punição!”, diz Ricardo, certo de que a vítima foi o fugitivo.
Não. Foi uma mãe, com seu bebê. Este, sobre um tapete vermelho, ainda treme a mãozinha (não se sabe até quando), enquanto a mãe, caída na calçada, contempla a vitrine de uma loja com o olhar vítreo.
Ao longe, no fim da rua, o fugitivo ainda corre...
Amanhã, o quarto episódio. Imagem: detalhe da capa da edição portuguesa de Down there, de David Goodis.
3 comentários:
Insanamente lírico, insanamente genial. Tudo aí, meu amigo: humor, dor, passagem...Aquele abraço. T
Nossa, Mayrant, sempre comento dos finais surpreendentes em teus contos, mas este... impossível descrever a sensação que me causou. Principalmente, a imagem do bêbe sobre um "tapete vermelho" ainda tremendo a mãozinha e da mãe contemplando a "vitrine com o olhar vítreo". Enquanto o fugitivo ainda corre... Sem comentários. Parabéns!!
... e,assim,seguem os fugitivos e sogrem os inocentes.
Bela representação da impunidade.
Um abraço, Mayrant.
Postar um comentário