Quando eu era criança e ficava doente, passava por um martírio. Não podia brincar, nem ir à escola, muito menos correr com o Pancho na praia, um legato que foi talvez o mais amistoso dos cães que tive a honra de conhecer.
Depois, passada a doença – e a convalescença –, eu me lamentava por perder tudo aquilo: os cuidados, as atenções, os presentes. Inclusive, o primeiro livro que li inteiro foi fruto de um sarampo.
Muito mais tarde, já adulto, compreendi que meus sentimentos não só eram normais como um composto humano, comum a quase todas as pessoas. Não são poucos, em todas as classes e nos mais variados lugares, os indivíduos que lamentam a doença quando doentes e dela sentem saudades quando curados. Esta confissão de George Bernard Shaw não deixa dúvidas: “Gosto da convalescença. É a parte que faz a doença valer a pena“. Ou este poema, do nosso Mauro Mota:
MENINO DOENTE
Eram o pião, a bola, o realejo,
o trem de corda, a caixa do brinquedo
de armar. Longe da escola, eram os
dedos da mãe, penteando-lhe os cabelos,
a fruteira no quarto, o açúcar-cande,
o resedá por cima da atadura.
Entre a cama e a janela, era o menino
com medo, não da doença, mas da cura.
Depois, passada a doença – e a convalescença –, eu me lamentava por perder tudo aquilo: os cuidados, as atenções, os presentes. Inclusive, o primeiro livro que li inteiro foi fruto de um sarampo.
Muito mais tarde, já adulto, compreendi que meus sentimentos não só eram normais como um composto humano, comum a quase todas as pessoas. Não são poucos, em todas as classes e nos mais variados lugares, os indivíduos que lamentam a doença quando doentes e dela sentem saudades quando curados. Esta confissão de George Bernard Shaw não deixa dúvidas: “Gosto da convalescença. É a parte que faz a doença valer a pena“. Ou este poema, do nosso Mauro Mota:
MENINO DOENTE
Eram o pião, a bola, o realejo,
o trem de corda, a caixa do brinquedo
de armar. Longe da escola, eram os
dedos da mãe, penteando-lhe os cabelos,
a fruteira no quarto, o açúcar-cande,
o resedá por cima da atadura.
Entre a cama e a janela, era o menino
com medo, não da doença, mas da cura.
4 comentários:
Era o terno, era o chão, era o sabor das palavras de Mauro Mota. Era o sabor do insólito, do que nunca conheci. Não tive infância, nem livros, nem filmes, nem nada. Tinha a televisão, aquele radar obsceno. Só segui em devaneios, imaginando e sonhando com mulheres bonitas pra gente namorar. Quando eu era doente eu era sim feliz. T
Nunca fui criança, Mayrant. E é a poesia que inventa esse meu tempo perdido.
Abraços,
Renata
Seu texto e o poema de Mauro Mota, tocaram-me de uma maneira que não sei explicar. Obrigada por fazer vir à tona tal sentimento.
Só quando eu adoecia, eu era tratada como criança realmente, pois, por eu ser a mais velha de cinco, tinha muitas responsabilidades. Doente eu era menina e podia passar o dia inteiro sendo. Era tudo o que eu queria. Abraços. M.
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