Um dos mais belos filmes já feitos, para mim, é Adeus, meninos, saído do pulso e da memória de Louis Malle, que escreveu um roteiro que também se lê como um romance breve. Em tempos tão traiçoeiros como os atuais, em que políticos se dedicam de corpo e alma a qualquer causa que possa lhes trazer uma resposta positiva nas urnas e em que um carrinho de bebê pode esconder uma bomba, este filme é um bálsamo de verdade e está acima de todas as diferenças que porventura separem os homens.
Quando a amizade de dois meninos, um católico e outro judeu, é interrompida pelo anti-semitismo – que também leva o Padre Jean, diretor do colégio interno onde ambos estudam e que aceita, em suas classes de meninos católicos, meninos judeus para protegê-los das garras nazistas –, descobrimos que tal acontecimento não é o de um momento, mas de uma vida inteira, e que, avessa a tudo isso, há ainda, no lodo mais fundo e espesso, uma esperança...
É esta, aliás, a compreensão que Julian, o menino católico, recebe e guarda até o fim de sua vida, na manhã em que lhe arrebatam seu amigo Bonnet, um garoto tão diferente e discreto – judeu, sensível, inteligente e que por isso mesmo era preciso eliminar. Sua reflexão final, já adulto, é memorável: “Bonnet, Négus e Dupré foram mortos em Auschwitz, o Padre Jean no campo de Mauthausen. O colégio reabriu suas portas em outubro de 1944. Mais de quarenta anos se passaram, mas até a minha morte eu me lembrarei de cada segundo dessa manhã de janeiro”.
3 comentários:
Do filme, só detenho fragmentos. Do livro, devidamente surrupiado por um irmão ainda leitor. Eis o que temos: um ato que resumiu toda uma vida. Belo texto. Aquele abraço. T
Belo blog...
Mayrant,
Vc já viu do Malle o Trinta anos esta noite?
Abraços,
Renata
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