"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

JEKYLL & HYDE

Uma noite dessas, sonhei que matava Graham Greene. E que minha esposa, cúmplice, me ajudava. Primeiro, mandei um violento golpe no sujeito, com um cano – de ferro provavelmente –, e por fim ela esgotou-lhe o resto de vida, sufocando-o no chão, com as mãos, sem piedade. E fizemos tudo tranqüilamente, desprovidos de qualquer hesitação ou questionamento, como acontece aos personagens dos filmes de ação americanos, que nunca pegaram uma arma e atiram com precisão, que nunca mataram – nem mesmo um rato – e o fazem sem hesitar, sem remorso. Acordei me perguntando por que exatamente Graham Greene, um autor que tanto admiro – e foi tudo, pois reconheço que a experiência, ainda que em sonho, foi maravilhosa. Um desabafo, uma resposta, ar puro depois de uma compressão insuportável. Fui assassino num sonho e gostei. Mas não me levem a mal – e fiquem tranqüilos: sou consciente o bastante para saber que, ao menos neste caso, a fronteira não é nada imprecisa. Realidade é realidade, sonho é sonho. Ainda prefiro ser Dr. Jekyll e sonhar que sou Mr. Hyde... Ou será o inverso?

2 comentários:

Silvestre Gavinha disse...

Mayrant,
que legal o teu sonho... dá até um conto.
Mas fica susse, como diz a moçadinha(meu filho, o tempo todo) que sonhar que está matando alguém e gostar, não significa perigo não.
Ah, se eu contasse meus sonhos desse tipo...
Quanto a questão da precisão ou não da fronteira, Dr. Jekyll e Mr. Hyde, o importante, eu acho, não é nem saber quem é quem dentro da gente. Basta ter consciência que se tem os dois (e até mais). O tempo todo. No meu entender, não é nem ver a fronteira próxima. Pelo contrário, quando se a está a ver próxima, significa que podemos ainda escolher ultrapassá-la ou não. Quando se perde a noção, até mesmo por negação, é que é perigoso.
Nossa! Que tanto ÃO! Desculpe lá. Depois, sou pela idéia do Calvino, no Visconde Partido ao meio, ou, pela idéia que tirei da história. Alguém, e qualquer um, para ser mínimamente bom, tem que ser metade mau.

PS. Só hoje notei a capa do teu livro. Não estava ali antes, pois não??? Achei-a muito legal. Fiquei mais ainda curiosa. É fácil encontrá-lo???
Abraço
Marie

Palatus disse...

Oh, meu caro mestre...saudade! E eu não sabia que você tem esse blog. Achei por acaso nesta blogosfera da vida. Vou anexar ao meu pra "non" perdê-lo de vista e matar a saudade de seus escriptum!
Abraço,
Nilson