Antes eu escrevia por necessidade de expressão e, de certa forma, para organizar o mundo à minha volta, compreendê-lo. Essa é uma utopia de muitos escritores: Moravia, Faulkner, Graciliano, Drummond. Hoje, escrevo por diversão, gozo pessoal e, talvez, vaidade. Como só escrevo o que quero, sem pressão alguma de ninguém, não vou adiante se o texto não me fornece prazer, ainda que seja uma simples crônica ou mesmo um ensaio. Quanto à poesia, é outra história: ainda escrevo poesia (e acho que sempre escreverei) impelido por uma inquietação, um abalo, algo que está temporariamente dentro de mim e teima em sair, e só o faz mediante palavras, textura sonora, metáforas, ironia. Não é por acaso que se diz que só a poesia confere sentido ao homem e à vida. Ao projetarmos um novo eu a cada poema (o eu do poema não é o do poeta, fique claro isso), nos ampliamos como homens e, assim, nos justificamos perante nós mesmos, embora para nada, já que vamos morrer. Em suma, também escrevo, talvez inconscientemente, para amenizar o fato de que estou no mundo só de passagem. Neste caso, cada texto seria potencialmente uma pegada, um vestígio de nós entregue, por algum tempo, à indiferença do mundo.
Quadro: Auto-retrato (1912), de Egon Schiele.
7 comentários:
Gallo,
um depoimento à altura do seus textos. Que suas pegadas sejam reconhecidas antes da tal posteridade.
Abraço.
Tom
p.s. estou com dificuldades para enviar os comentários.
Como o personagem de Susan Sarandon no Shall we dance: "precisamos de testemunhas" sempre.
Graças a Deus pessoas como você, tem essa necessidade e gozo.
Bom para nós.
Leitores.
É, meu rei, o poema não é o poeta. Muito bem colocado. Não tenho certeza a razão de minha insistência em escrever. Às vezes quero me dizer, às vezes quero dizer você, às vezes quero e não dizer PN. Acho que o último, cara. De qualquer forma quero todo mundo leia e me xingue (ou não)... eheheh
Você escreve para eu, nos, outros, ninguém morrermos. É isso. Ou o reverso disso.
Cleilton.
Paro por aqui. Tom disse tudo. Aquele abraço.
Eu escrevo pra não entupir-me das asneiras.
Sim, acredito nisso, o texto é uma pegada, um vestígio, uma forma de não morrer. Adoro essas suas reflexões sobre a escrita. Aprendo muito. Abraços.
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