Raros eram os domingos em que meu pai não viajava, no começo da tarde, para ver sua outra mulher e sua filha, minha meia-irmã Indaiá que só vim a conhecer já adulto.
Por isso as partidas me fazem mal. Um trem se afastando na tarde ou um ônibus sumindo na curva, um navio ao longe ou um avião alçando vôo me trazem água aos olhos...
Por isso também os domingos me são tristes depois do meio-dia. Ainda que seja o meu dia preferido. Ou mesmo por isso: a emoção que senti insiste em ser repetida ou tão-somente relembrada − e isso dói.
É quase certo que ninguém jamais escapa do que foi. E eu fui um menino sem pai por muitos meios-domingos...
Foto: Kolya, filme de Jan Sverák.
4 comentários:
Do domingo, só guardo a imagem galvanizada do meu pai, estendido em berço esplêndido no sofá. Da presença que se faz ausência. Belo texto. Aquele abraço. T
Bonita e pungente história.
É, meu caro, ninguém está livre da vida, essa prisão de porta aberta. Quero ler mais textos assim, viscerais, emocionantes. Abr. (carlos)
Muito bonito, Mayrant.
Abraços,
Renata
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