"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A SOMBRA DE UMA ESPADA


Quanto vale uma carteira de identidade?
Nada.
Tire uma pela manhã e outra à tarde.
Tire uma em cada Estado
E depois rasgue.
Quanto vale, no fundo,
A sua vida com tantos números?
Nem mesmo uma moeda.
Ou você é um cego – e o fazem de bobo –
Ou é um merda – e lhe dão descarga.
Somos eu e você agora descendo pelo esgoto?
Somos. Com a enorme vantagem
De que vamos soltos...
Brasil, Bahia, Rio – há quem goste disso.
Há até quem chore ouvindo “nosso” hino.
Também pelo que ouvimos aqui hoje...
“Ei, você aí! Me dá um dinheiro aí!”
Isto sim é a verdade, a nossa identidade.
Pedir. Pedir. Pedir.
Eu peço, você pede, o Presidente pede.
Ele então é quem mais “tira” identidade.
Uma pela manhã, outra à tarde
Para rasgar a ambas à noite, no porre.
Sabe? Volte, volte, volte até os portugueses
E ainda assim seremos muitas vezes
Nada, ninguém.
Ou a sombra de uma espada
Cravada no coração de um índio ou de um negro.
Este poema integra Os prazeres e os crimes. Um dos meus livros inéditos e engavetados.

3 comentários:

Lidi disse...

Mayrant, estou ansiosa para ver "Os prazeres e os crimes" sair da gaveta! Abraço.

Anônimo disse...

Um borra é o que somos. E ainda chamam isso de "identidade". Da minha parte, "Os prazeres e os crimes" já é obrigatório. Aquele abraço. T

Anônimo disse...

Oi, Mayrant. Amei esse poema. Já separei os dois exemplares de meu livrinho-filho único. BJ