O escritor russo Ievgueni Ievtuschenko, em Ardabiola, vê o câncer como um símbolo do mal no homem. Um limite inatingível também, pois é o fundo do próprio homem: alcançá-lo corresponde a uma espécie de anulação do ser que o alimenta e sem o qual a vida não existiria. A essência do homem é o mal, e o mal é o câncer; logo, o homem é o câncer, uma energia que disseca o organismo de dentro para fora: curá-lo faria do ser humano uma nulidade, uma carcaça. E assim, quando um cientista descobre essa notável cura, é o próprio homem, com sua inclinação para a destruição, ainda que inconscientemente, quem vai fazer com que tal conhecimento desapareça, escamoteado no véu da ignorância, do embotamento. E o faz com brutalidade, bem ao gosto do gênero humano. O sujeito que doravante poderia evitar que muitas pessoas morressem perdeu a consciência, mal se lembra quem é, e menos ainda que perpetrou uma das maiores descobertas de todos os tempos. Surrado quase até a morte por um grupo de rapazes, está confinado à cama e ao silêncio. Mas, bem no fundo de sua mente, lá onde dormem as melhores idéias, está o segredo... É o que surpreende no desfecho desta trama: como num sonho, um evento inesperado – insólito, eu diria – resgata a descoberta que aparentemente estava soterrada para sempre... Mas não vou contar o final da novela. Transcreverei – isto sim – um dos momentos que mais impressionam os leitores, aquele em que, para a nossa desgraça, o protagonista afirma que não somos muito diferentes dos animais – se é que não somos iguais ou piores: “Um dia o homem também deixará de existir. Os seres humanos são os únicos animais que caçam os outros da mesma espécie. Nem as hienas fazem isso. Sabem o que os bichos pensam de nós? Que somos os animais, enquanto eles são as pessoas”.
"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
O HOMEM É O CÂNCER
O escritor russo Ievgueni Ievtuschenko, em Ardabiola, vê o câncer como um símbolo do mal no homem. Um limite inatingível também, pois é o fundo do próprio homem: alcançá-lo corresponde a uma espécie de anulação do ser que o alimenta e sem o qual a vida não existiria. A essência do homem é o mal, e o mal é o câncer; logo, o homem é o câncer, uma energia que disseca o organismo de dentro para fora: curá-lo faria do ser humano uma nulidade, uma carcaça. E assim, quando um cientista descobre essa notável cura, é o próprio homem, com sua inclinação para a destruição, ainda que inconscientemente, quem vai fazer com que tal conhecimento desapareça, escamoteado no véu da ignorância, do embotamento. E o faz com brutalidade, bem ao gosto do gênero humano. O sujeito que doravante poderia evitar que muitas pessoas morressem perdeu a consciência, mal se lembra quem é, e menos ainda que perpetrou uma das maiores descobertas de todos os tempos. Surrado quase até a morte por um grupo de rapazes, está confinado à cama e ao silêncio. Mas, bem no fundo de sua mente, lá onde dormem as melhores idéias, está o segredo... É o que surpreende no desfecho desta trama: como num sonho, um evento inesperado – insólito, eu diria – resgata a descoberta que aparentemente estava soterrada para sempre... Mas não vou contar o final da novela. Transcreverei – isto sim – um dos momentos que mais impressionam os leitores, aquele em que, para a nossa desgraça, o protagonista afirma que não somos muito diferentes dos animais – se é que não somos iguais ou piores: “Um dia o homem também deixará de existir. Os seres humanos são os únicos animais que caçam os outros da mesma espécie. Nem as hienas fazem isso. Sabem o que os bichos pensam de nós? Que somos os animais, enquanto eles são as pessoas”.
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