Atualmente, para o sujeito ser escritor de sucesso é preciso que represente em sua arte alguns dos seguintes tipos ou então que se solidarize com eles.
1) O pobre com algo a dizer de muito chocante, de modo que desperte a piedade alheia e faça a multidão chorar, visando a uma adaptação cinematográfica produzida pela Globo Filmes, sob a direção de Guel Arraes.
2) O presidiário com alguma capacidade de análise crítica de corredores escuros e celas abarrotadas, e que seja capaz de confessar qualquer coisa, até mesmo que esconde ovo cozido na cueca.
3) O homossexual convicto, a arrotar com sarcasmo as vantagens de olhar para o outro lado da cama e praticamente se ver.
4) A mulher desbocada e disposta a expor publicamente seu apetite sexual, ainda que, no fundo, prefira manter a dieta.
5) O afro-descendente, a promover retaliação, e até racismo às avessas, em nome de reparação, revisão, reabilitação, reajuste... Arre, é tanto erre, que até parece que ligaram a moto-serra!
6) A prostituta – perdão, garota de programa – a depor voluntariamente sobre sua vida nem um pouco monótona, a variar da pose de bruços para a de costas.
7) O místico profissional, a nos propor auto-ajuda com sua experiência de frases-feitas e inócuas: “Olhe o horizonte”, “É em ti mesmo que está o sentido”, “O segredo é nada segredar”, “Voe, você pode voar: basta descobrir que pode fazê-lo”.
8) A feminista agressiva, a diminuir, em linguagem ácida do tempo de nossas avós e farta de epítetos jocosos, o que ela própria não possui entre as pernas.
9) O rico deslumbrado, a apresentar sua riqueza e seu suposto refinamento, sem aparente ostentação nem receio de seqüestro, numa mansão cheia de seguranças, cães ferozes e protegida por grade eletrificada.
10) O árabe sofredor, com seu irresistível cotidiano de fé e sangue, de fome e areia, de homens de quatro e mulheres sufocadas em mantos negros ao sol do meio-dia, de sedutores homens-bomba e carros do ano atulhados de explosivos até o teto.
11) O adolescente – homem ou mulher – que não consegue terminar uma única frase, escreve e fala por códigos, dança ao som de uma nota só, se julga moderno por falar palavrão, ainda mais moderno rindo ao efeito de um baseado e realmente um tipo de vanguarda ao ser grosseiro, estúpido e mal-educado.
Certamente me esqueci de dois ou três tipos marcantes, e não menos burlescos, que alimentam, com propriedade, o gosto literário de nossa época. Mas não importa! Os arrolados acima já nos dão a medida exata de nossa imaginação: nenhuma.
Ah, a literatura atual! Caracterizada por permitir que um determinado leitor se reconheça, e os demais, entediados, pulem as páginas.
1) O pobre com algo a dizer de muito chocante, de modo que desperte a piedade alheia e faça a multidão chorar, visando a uma adaptação cinematográfica produzida pela Globo Filmes, sob a direção de Guel Arraes.
2) O presidiário com alguma capacidade de análise crítica de corredores escuros e celas abarrotadas, e que seja capaz de confessar qualquer coisa, até mesmo que esconde ovo cozido na cueca.
3) O homossexual convicto, a arrotar com sarcasmo as vantagens de olhar para o outro lado da cama e praticamente se ver.
4) A mulher desbocada e disposta a expor publicamente seu apetite sexual, ainda que, no fundo, prefira manter a dieta.
5) O afro-descendente, a promover retaliação, e até racismo às avessas, em nome de reparação, revisão, reabilitação, reajuste... Arre, é tanto erre, que até parece que ligaram a moto-serra!
6) A prostituta – perdão, garota de programa – a depor voluntariamente sobre sua vida nem um pouco monótona, a variar da pose de bruços para a de costas.
7) O místico profissional, a nos propor auto-ajuda com sua experiência de frases-feitas e inócuas: “Olhe o horizonte”, “É em ti mesmo que está o sentido”, “O segredo é nada segredar”, “Voe, você pode voar: basta descobrir que pode fazê-lo”.
8) A feminista agressiva, a diminuir, em linguagem ácida do tempo de nossas avós e farta de epítetos jocosos, o que ela própria não possui entre as pernas.
9) O rico deslumbrado, a apresentar sua riqueza e seu suposto refinamento, sem aparente ostentação nem receio de seqüestro, numa mansão cheia de seguranças, cães ferozes e protegida por grade eletrificada.
10) O árabe sofredor, com seu irresistível cotidiano de fé e sangue, de fome e areia, de homens de quatro e mulheres sufocadas em mantos negros ao sol do meio-dia, de sedutores homens-bomba e carros do ano atulhados de explosivos até o teto.
11) O adolescente – homem ou mulher – que não consegue terminar uma única frase, escreve e fala por códigos, dança ao som de uma nota só, se julga moderno por falar palavrão, ainda mais moderno rindo ao efeito de um baseado e realmente um tipo de vanguarda ao ser grosseiro, estúpido e mal-educado.
Certamente me esqueci de dois ou três tipos marcantes, e não menos burlescos, que alimentam, com propriedade, o gosto literário de nossa época. Mas não importa! Os arrolados acima já nos dão a medida exata de nossa imaginação: nenhuma.
Ah, a literatura atual! Caracterizada por permitir que um determinado leitor se reconheça, e os demais, entediados, pulem as páginas.
Foto: maravilhoso trabalho do fotógrafo Moisés Gonzalez, reproduzindo em fotografia os quadros de Gustav Klimt.
4 comentários:
Pois é Mayrant, já não há personagens, nem enredos. Já não há histórias a se contar.
A não ser aquela que tentam nos impor.(Histórias Impostas - Carlos Eduardo Maia)
E isso já nem é de hoje.
Foi o Walter Benjamin que já disse isso???
Mayrant
O que é isto? Alguma crise de flatulência noturna ou dor de dente depois da meia-noite? Você é muito mais inteligente do que isto.
Um abraço e tome um antiácido
caracas, mayrant - dava um longa-metragem isso aí
"Arre, é tanto erre, que até parece que ligaram a moto-serra!". Vide a literatura atual, vide a nossa paciência. Aquele abraço. T
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