Há à nossa volta uma permanente melancolia, que é imóvel e transparente como o decorrer dos anos. Nada a apaga ou atenua. Para ela, mesmo os livros, os filmes, uma jovem amante são inócuos. Presente em todos os dias, mas perceptível apenas nos rápidos momentos em que nos ausentamos do mundo ou descansamos de nós mesmos, dilata-se nos domingos, especialmente os de chuva, de pequenos rios verticais a correr nas janelas, ou de céus brancos, libertos daquele azul de verão que hipnotiza até o mais fleumático dos homens. No fim, sua fadiga se confundirá com a nossa, e então, massa inútil e sem futuro, estaremos prontos.
Pintura: O chapéu amarelo (1991), de Aldemir Martins.
Um comentário:
Caramba, isso é poeisa, meu amigo. Como você diria, encerra uma verdade, e dolorosa e cotidiana. Há, talvez, o único (e paradoxal) atenuante: a melancolia não emcerra só um indivíduo. Aquele abraço. T
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