"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

AMIZADE É COISA SÉRIA

Numa das melhores falas do filme Conto de verão, de Eric Rohmer, Solène, ao ser preterida por Gaspard em favor de uma amiga dele para um passeio de férias, diz que o compreende, pois: “Amizade é coisa séria... Talvez mais que o amor”. Será? No contexto do filme, esta é uma fala maravilhosa; no da vida, já não faz sentido. As amizades viraram cabides temporários para casacos de inverno molhados... E não duram mais que o intervalo de uma conquista, qualquer que seja ela... Passado o tempo das descobertas e depois o das decepções, das desavenças, elas prontamente morrem. E é bom que seja assim. É preferível. Menos um enigma à nossa volta, menos uma voz, menos uma esperança. Sou dos que caminham melhor sobre os escombros. Talvez por isso os filmes sobre o fim do mundo me atraiam tanto. Todos. É porque, de fato, bem lá no fundo, não acredito no gênero humano. Só acredito no Eu-digo, Eu-faço, Eu-posso, Eu-quero, pois é o que eu ouço e vejo todo o tempo. Só acredito no espírito ególatra, que é a verdadeira assinatura dos homens e a única confissão realmente autêntica, direta e espontânea. Neste momento, estou com dois – ou mesmo três – casos de amizade que vai morrendo. Mas, naturalmente, dois ou três novos se avizinham. Não sei até que nível, nem se vão se prolongar. Provavelmente não. O oportuno encontro de duas pessoas não tem qualquer importância, nem para frente nem para trás. É só um capricho do acaso, uma coisa que o vento traz e depois leva. Um incidente as uniu, outro incidente as afasta – sem piedade.

3 comentários:

Silvestre Gavinha disse...

Mas será a brevidade ou longevidade dos encontros o que realmente importa???
Estamos aqui falando de amizades ou de quê???
Conforme Miguel Esteves Cardoso, "amigo é a melhor coisa do mundo. Porquê? Não sei. Mas é." E ontem lia Carpinejar dizendo que não é a presença constante que determina o amigo. É a qualidade do contato e da sensação. Aquela que apesar do passar dos anos, não passa e sempre baila no encontro ou na lembrança.
Descrer do gênero humano não é nossa forma de duvidar de nós mesmos??
Grande abraço.
Marie

Lidi disse...

"Onde eu possa plantar meus amigos, meus discos e livros, e nada mais." Como na música interpretada por Elis Regina, estou sempre tentando "plantar" e "cultivar" as raras pessoas que considero amigas. Não sei se conseguirei por muito tempo, mas tento. Se uma amizade acabar morrendo (por um incidente qualquer) acredito que terá valido a pena. Já me decepcionei algumas vezes, mesmo assim continuo me entregando muito aos meus amigos, quem sabe um dia me torne mais cética.

Anônimo disse...

Meus melhores amigos estão distantes. Não compartilhamos confissões, não cedemos ombro amigo para chorar, sem palavras douradas e sem sorrisos exagerados. Tenho muito bons amigos e os considero muito. Considero também, e com maior atenção, a verdade que vem dos inimigos. Não tenho inimigos. Ora, mas não é justamente porque os mantenho distantes?
Grande abraço, Mayrant.