Não há explicação quanto ao que nos faz gostar de um poema um conto um romance um filme. Quantas vezes li Felicidade, de Marques Rebelo, bem brasileiro! Quantas vezes a primeira página de Machado, o Casmurro. E mais ainda a frase “que eu conheço de vista e de chapéu”. Quantas vezes Antonioni, Camus, Örkény! Quantas vezes os exercícios de Borges. Exercícios mentais, históricos, de exibição do intelecto para o gozo dos olhos. Quantas vezes, em Tóquio violenta, de Suzuki, esta cena: um carro, bandidos, uma mulher bonita que surge na calçada, um deles que a chama, e ela que se volta – e assim a imagem, num close inesperado e estonteante, revela-nos seus olhos, sua boca e nos antecipa toda a estética do filme, pois a surpresa da moça é a nossa.
Imagem: close de Tóquio violenta (1966), de Seijun Suzuki.
7 comentários:
"Os infelizes são ingratos; isso faz parte da infelicidade deles." Victor Hugo
Que frase maravilhosa é essa? E que texto maravilhoso é esse? Acabei de publicar um post sobre como é bom gostar de várias coisas. Seu texto não deixa dúvidas de que você compartilha desta minha característica.
Abraços,
Renata
Não há explicação mesmo. E aquele ditado que diz que cada um tem seu gosto é uma verdade absoluta. Nem sempre me agrada algo que pode ter sido aclamado pelo público, assim como nem sempre coisas que me tocam profundamente e para as quais confiro os melhores adjetivos são sequer motivo de simpatia para outros. Talvez por isso a gente fique tão feliz quando percebe semelhanças nos outros, né? Beijos. :)
O pior é quando este gosto se torna uma verdade em pregação.
O que acrescentar? É penoso gostar de tudo e não gostar de nada. Sinto-me mais à vontade com livros e filmes. O que sobra? Talvez a sincera declaração de que já adorei esse filme, mas que nunca vi. Agora a surpresa é minha. Aquele abraço.
O Compartilhando Leituras é um novo blog que está no ar. Faça uma visita quando puder e deixe seu comentário. Obrigada!!!
compartilhandoleituras.blogspot.com
Mayrant, muito obrigada pelo comentário no meu blogue. Devo muito do meu amor pela literatura e pelo cinema a você. Um abraço.
Talvez, o que sentimos é uma identificação, uma tradução de pensamentos e sentimentos, que nos conforta. Alguns autores/cineastas/artistas conseguem compreender e transformar em arte exatamente o que estamos sentindo.
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