"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O LIVRO QUE PROCURAMOS

Em seu livro intitulado O caderno vermelho, o escritor Paul Auster arrola histórias supostamente reais de coincidências e estranhas coincidências. Uma das mais curiosas é a de um sujeito, amigo de Auster, que procurava um determinado livro, para ele raro. Depois de muito percorrer sebos e livrarias e de consultar catálogos, sem sucesso algum, e tendo praticamente desistido da busca, ele estava um dia perambulando por Nova Iorque, quando avistou uma jovem de pé junto a uma balaustrada de mármore, lendo exatamente o livro que ele procurava. Embora espantado, e ainda mais envergonhado por ter de abordar uma pessoa estranha, ele disse:
“Tenho procurado este livro por toda parte...”
“É maravilhoso. Acabei de ler neste instante”, respondeu a moça.
“Sabe onde posso achar outro exemplar?”, perguntou o amigo de Auster. “Isso é muito importante para mim.”
“Este aqui é para você”, disse a jovem, com a maior naturalidade.
“Mas ele é seu”, retrucou o homem.
“Ele 'era' meu, mas agora eu já acabei de ler. Eu vim aqui hoje para entregá-lo a você.”
Um caso sobrenatural, fantástico, ou um jogo da moça, aproveitando a insólita situação? Quem sabe? E, se souber, guarde o conhecimento para si, em favor da ambiguidade.


Fonte: AUSTER, Paul. O caderno vermelho. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 26.
Foto: Nathy Silva.

4 comentários:

Hitch disse...

Lindo e (insólito) relato. Que a literatura continue assim, nessa turba de sentidos. Aquele abraço.

Lidi disse...

"Quem sabe? E, se souber, guarde o conhecimento para si, em favor da ambiguidade." Adorei o relato e, principalmente, este final. Um abraço.

Mariana disse...

Essas coincidências são tão incríveis que às vezes até acredito que não são apenas coincidências. Bonito texto!

Unknown disse...

Adoro suas indicações! Que venham outras panizzas... Abraço