Primeira edição brasileira, de 1958. |
Este romance teve duas ou três edições no Brasil e ficou conhecido entre nós muito mais por influência do filme homônimo, dirigido por Stanley Kramer, com Ava Gardner, Gregory Peck, Anthony Perkins e Fred Astaire nos papéis principais, que pela quantidade de leitores entusiasmados. Aliás, é sempre assim com qualquer obra que, depois de sucesso de venda e crítica no exterior, acaba transformada em filme. O sujeito se sente orgulhoso de revelar que não leu o livro, mas viu o filme.
Publicado em inglês em meados dos anos 1950 e ambientado profeticamente em 1963, narra os últimos meses da Austrália, um dos poucos países que não foram varridos da face da Terra pela guerra nuclear, deflagrada por Rússia e China, e que acabou por envolver todas as grandes potências, como EUA, França, Itália, Alemanha e Reino Unido. Só o Hemisfério Sul sobreviveu, e entre os países remanescentes estão, além da Austrália, África do Sul, Brasil, Uruguai, Argentina, Nova Zelândia, boa parte das ilhas do Pacífico, Tasmânia etc.
Um casal com sua filhinha que começou a engatinhar; uma jovem alcoólatra, irônica e niilista, incapaz de se conformar com o que houve; o capitão do submarino Skorpio, cuja família, residente nos EUA, não existe mais, mas não para ele; um cientista que, sabendo que todos vão morrer em mais ou menos seis, sete meses, desiste praticamente da carreira e se torna piloto de corridas de automóvel; um fazendeiro que, ao saber que os animais sobrevivem mais tempo que as pessoas em meio à radiação que mortalmente desce do Norte para devastar o Sul, não para de pensar em quem vai alimentar seu gado depois de sua morte... Personagens em situação extrema e irreversível e que se movem entre o dilema de conservar esperança ou aceitar a morte iminente.
Escrito com precisão de estilo e a objetividade característica do romance de especulação futurista, sem abrir concessões para abarcar um público mais vasto, nem dele se afastar, por ensejo intelectual, A hora final representa um tempo em que os grandes livros ainda eram escritos para ser lidos com prazer e proveito, e não para agradar a um público específico, de leitores medianos, ou ao mundo acadêmico, de leitores frios.
Abre-o uma epígrafe extraída de um dos mais belos poemas de T. S. Eliot, Os homens ocos, e fecha-o a certeza, expressa no poema e desenvolvida no romance, de que os homens são e serão capazes de, por ambição, capricho ou orgulho, acabar com o planeta, se não com um estrondo, com uma lamúria, que é o que resta aos australianos sobreviventes, mas que, ainda assim, até o último momento, se agarram ao que a vida tem de mais precioso: o entusiasmo de viver.
Esperemos que em breve alguma editora brasileira se empenhe em relançar, no Brasil, este clássico definitivo, cujas cores, à medida que o mundo avançou e aparentemente se livrou da bomba, ficaram ainda mais fortes, em tons quase berrantes. Se assim for, garanto que os leitores não vão se arrepender da leitura. Os grandes livros são os que superam todos os obstáculos e, mesmo melancolicamente, continuam a nos mostrar a verdadeira face do mundo.
Esperemos que em breve alguma editora brasileira se empenhe em relançar, no Brasil, este clássico definitivo, cujas cores, à medida que o mundo avançou e aparentemente se livrou da bomba, ficaram ainda mais fortes, em tons quase berrantes. Se assim for, garanto que os leitores não vão se arrepender da leitura. Os grandes livros são os que superam todos os obstáculos e, mesmo melancolicamente, continuam a nos mostrar a verdadeira face do mundo.
2 comentários:
Eu li este romance em 1995. quando voltava da faculdade no dia 11 de setembro vi na televisão as torres gêmeas ardendo e sucumbindo. tremi nas bases quando lembrei que era exatamente assim que começava a guerra do romance.
Li o romance, em inglês, ainda no período da Guerra Fria, na década de 60, e fiquei devastado...Esse romance foi uma das coisas mais marcantes e perturbadoras que li...
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