Não sei ao certo o que espero de um poema quando o leio. Como não sei o que encontrarei num conto ou num romance, num filme ou numa peça teatral. Se não fosse assim, eu não diferiria em nada de um simples leitor de revistas e jornais ou de um assíduo espectador de programas de tevê. E é porque só me deparo com o “esperado quando inesperadamente me deparo com ele”, que sou um obstinado leitor de literatura. Retornar a um texto literário, qualquer que seja o gênero, é refazer o instante que o engendrou dentro de nós, trazer de novo à superfície sensível de nossos sentidos aquela “inesperada novidade”. Tornar a ler um poema é reinaugurá-lo, ainda que esta segunda leitura não esteja distante da primeira senão alguns minutos, ou mesmo segundos. E esta reinauguração não é gratuita: promove-a o delicado instante em que nos deparamos com o inesperado, que, no entanto, nos convence, com sua força, de que o esperávamos há séculos e que até “o procurávamos”. Três ou quatro poemas do novo livro de Georgio Rios me causaram este efeito singular quando o li. Não vou falar da “suposta evolução” do poeta, nem da felicidade que se instala no leitor, ao descobrir o quanto o poeta é encantatório. Esta é uma tarefa muito velha e que prefiro deixar à crítica oficial de poesia do nosso tempo, se é que ela existe e é necessária, afinal de contas o que é o poema senão um objeto para sentir e tão somente sentir? Como nestas duas surpresas:
VERDADES
Gosto de tudo que não conheço:
Das cores que não sei
Das fotos que não vi
Dos livros que nunca li
Das coisas que não sei
Dos versos que nunca escrevi.
HOJE É DOMINGO
Esquecer o ofício e o ócio
os orifícios
aquietar os ossos
e lembrar apenas do
óbvio
estamos vivos e
a morte é negócio.
Ambas de GEORGIO RIOS, a quem agradeço por me ter enviado um exemplar do seu Modus operandi (Itabuna: Via Litterarum, 2010).
5 comentários:
li seus minicontos lá no Veredas. Gostei pra caramba. Um abraço
Chico Pascoal
http://microrelatosdocheeko.blogspot.com/
Georgio confirma de vez sua inequívoca vocação (ou sina?) para semear poemas ao vento. Louvado seja essa menina, a poesia. Aquele abraço.
Meu caro, que bom que tenhas gostado destes poemas e mais uns dois. Isso confirma que a carpintaria é a via do poeta que se preza. Fico muito feliz.Um grande abraço!
Eu gostei muito de "Verdades". Eita saudade, Mayrant. Mas estamos por aqui. Bjs.
Gostei muito dos poemas do amigo Georgio. Vou adquirir o meu exemplar do "Modus operandi" na próxima semana. Abraço, Mayrant.
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