"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry
sábado, 24 de julho de 2010
PHILIP ROTH
Não lia Philip Roth há muitos anos. Não obstante, três romances do autor jamais me saíram da cabeça: O complexo de Portnoy, O seio e O professor do desejo. O seio, particularmente, me impressionara muito. Narra a história de um homem que pouco a pouco se transforma num seio e acaba internado num hospital, um enigma para os médicos e uma atração para os jornalistas do mundo inteiro. A conclusão dessa improvável história é comovente: dor, abandono, solidão. Não há edições modernas desse livro. A única existente data dos anos 1970, pela Artenova, se não me engano.
Não é incomum que por muito tempo, apesar de termos apreciado um autor, fiquemos sem ler seus novos livros. Foi o que aconteceu comigo em relação a Roth, até que recentemente abri numa livraria A humilhação e só parei nesta madrugada. O argumento é ótimo: um famoso ator de teatro deixa de atuar porque descobre que ele próprio é um teatro, um embuste. Vai parar num sanatório, faz novas amizades, não ouve os conselhos de seu agente e, por fim, começa uma relação amorosa com uma ex-lésbica. O resto é a vida, mas em tom de quase sonho. Tudo acontece como se o protagonista não pudesse interferir, ao sabor de um misterioso fluxo, metáfora da existência. Até que ele toma uma decisão, que é a errada, a pior que poderia tomar. Coerente com seu assunto, a vida de um ex-ator, o romance se estrutura em três atos, como uma peça, e se conclui com uma ironia: o ator volta a atuar, mas é a sua última atuação.
Diferentemente de muitos autores experientes, que com o passar do tempo incorrem em repetições, Roth continua cheio de imaginação e disposto a refletir ou simplesmente aceitar os novos tempos: "Ela só queria se livrar dele para satisfazer o desejo humano, tão comum, de tocar para a frente e tentar uma coisa nova". A humilhação, apesar de sua brevidade, pouco mais de cem páginas (e isso talvez até o faça mais luminoso), é romance de um autor avesso ao comum.
Imagem: cartaz do filme Elegy (no Brasil, "Fatal"), baseado em romance de Philip Roth.
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4 comentários:
Como sempre, as tuas resenhas me deixam com vontade de sair correndo atrás do livro para ler. Obrigada pela dica.
P.S: Terminei de ler "Bom dia, tristeza" e, simplesmente, adorei. Confesso que, sendo indicado por você, eu já esperava por isso.
Um grande abraço.
Uma dica preciosa, a ser seguida com gosto. Fazia muita falta as correspondências literárias no blogs Não nos afastemos desse hábito, nunca. Aquele abraço e felicitações.
Mayrant, se puder, leia "Indignação", de Roth. Um dos melhores livros que li até hoje, acho. "A humilhação" eu até comprei, mas tenho outros na frente dele pra ler, inclusive o seu. Abraço!
Mayrant, mandei um email para você ontem, chegou aí? Fiquei com receio de você não ter recebido. Abraço!
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