
"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
MORREU J. D. SALINGER

domingo, 24 de janeiro de 2010
A RESPOSTA PELO TAO

"O Tao não é bom nem mau, é tão-somente a única Realidade. O Tao é. Todas as coisas irreais têm vida ilusória, feita de contrastes e relatividade. Elas não vivem por si mesmas, são somente engano. Deixa de querer ser bom, e não penses que és mau. Wu wei, não-agindo, é assim que te deves deixar conduzir. Não ser bom nem mau, nem grande nem pequeno, nem alto nem baixo. Tu só serás realmente no dia em que, observa o sentido de minhas palavras, já não fores mais. Livra-te primeiro de todas as ilusões, desejos e aspirações, e então estarás no caminho, sem que precises sabê-lo, sem que precises ser conduzido por uma causa conhecida. Estarás seguindo para o Tao através de um ritmo suave, ou seja, por seu princípio vital puro, o único real. E seguirás assim, de forma tão clara e natural como as nuvens douradas que já se dissolveram no céu".
Pintura: Saquarema (1955), de José Pancetti (1902-1958).
domingo, 17 de janeiro de 2010
O CONTISTA CHRIS OFFUTT

Offutt reúne tudo o que se espera de um contista nato: fluência, trama envolvente, movimentação no tempo e no espaço, alternância de narração, descrição e diálogo, uma linguagem ao mesmo tempo funcional e poética, com rasgos filosóficos, representação relevante da vida e do mundo, reflexão e, às vezes, ciframento, desfechos condizentes ou conflitantes com a trama, atmosfera, mistério e ironia. Poucos foram os contistas que li nos dez últimos anos (e dos quais antes jamais ouvira falar) que me deixaram assim tão empolgado. Na verdade, só me lembro de dois: o sergipano Antônio Carlos Viana e a italiana Dacia Maraini, com o livro Meu marido (Berlendis & Vertecchia, 2001).
Dois contos se rivalizam como as obras-primas do livro de Offutt, que também é romancista e escreveu um livro de memórias: Além das montanhas, que dá título ao volume, e Moscou, no Idaho. Em ambos, a trama é só um pretexto para uma imersão maior, sobre a existência. O primeiro narra a história de Gerald, que é encarregado pelos quatro cunhados de ir buscar o outro irmão deles, Ory, que levou um tiro e está hospitalizado numa cidade distante. O segundo enfoca o dia-a-dia de dois ex-presidiários no único emprego que, ao sair da cadeia, encontraram: coveiros. Nos dois contos, e mais fortemente no segundo, prevalecem as reflexões sobre a vida a partir do seu fato mais corriqueiro: a morte. O diálogo entre os dois coveiros chega a um nível tal, que um deles começa a achar que a prisão era melhor, mais digna, o verdadeiro lar, o lugar onde se alcançam as lições definitivas: “A maior coisa que aprendi foi como conseguir que as pessoas me deixassem sozinho. Depois foi como dormir. Antes, nunca dormia bem; hoje, consigo dormir catorze horas seguidas.” E o outro retruca: “Só isso?” Não: “Também tive certeza absoluta de que gosto de mulheres”. Muitos são os trechos a destacar, como este, mais filosófico: “Ocorreu-lhe que o tempo não se move para a frente, como ele sempre pensara. São as pessoas que se movem pelo tempo”. Ou este outro, mais devastador: “Na prisão, descobrira que as leis eram feitas para proteger as pessoas que faziam as leis”.
De uma linhagem de escritores que não pretendem entreter, mas concentrar o leitor, fazê-lo evoluir do embotamento para a consciência, Offutt assim conclui seu relato: “Tilden se perguntou quando encontraria uma mulher, um trabalho de que gostasse, uma cidade onde quisesse ficar. Lá em cima, a Via Láctea fazia uma nevasca de estrelas no céu. Não havia nem uma cerca ou muro à vista”. Exílio existencial, liberdade de ação: destino. Eis a fórmula, da literatura para a vida.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
ERIC ROHMER

É óbvio, portanto, que para o nosso tempo o que Cristiano Ronaldo ou Beyoncé comeram no café da manhã é muito mais importante como notícia que a morte de um cineasta francês com mais de oitenta anos e que, além disso, a vida inteira filmou em surdina, sem estardalhaço; e ainda mais se aqueles dois estiveram na mesma cama...
Para o cinema de arte, a perda de Eric Rohmer (1920-2010) não é pequena. Ele foi o sul e o norte de muitos cineastas, e continuava a produzir adeptos. Foi uma fração de sol num campo gelado. Uma trilha a seguir e um estilo a celebrar. Era um dos últimos diretores franceses oriundos daquela genial geração dos anos 1950, e era também o mais discreto e seguramente um dos mais corajosos. Não fez concessões de nenhuma natureza, não adaptou seu estilo às exigências de momento, nem mudou suas escolhas e predileções em favor da celebridade. Encheu-se de palavras para a veneração de poucos e um respeito mútuo, pois não há este crítico que, diante de seus filmes, não apascente sua fera. Pode até não o admirar, mas não o desdenha. Rohmer seguiu como começou e findou-se como no início, esmiuçando a vida.
Costumo dizer aos amigos que o cinema atual, especialmente o de entretenimento, está mais pautado no diálogo que nas imagens, a não ser que o astro do filme seja a máquina de efeitos especiais. Neste caso, a ação ganha vulto e praticamente movimenta todo o filme. Pode parecer paradoxal o que digo, mas Rohmer baseava suas narrativas em três aspectos: o diálogo, a movimentação constante dos personagens e o exame das relações cotidianas mais banais. Nele, contudo, diferentemente dos filmes de massa, o diálogo não é vazio ou funcional, para o esclarecimento da platéia; nem a movimentação um recurso da ação, que mantém o público vidrado; tampouco as relações cotidianas se resumem a seções laboratoriais de tipos, com vistas a promover na sociedade, panfletariamente, convenientes mudanças de comportamento. Em Rohmer, o diálogo é a vida do filme; a movimentação, o que faz a trama avançar no tempo e no espaço; e as relações cotidianas, a matéria que permite o exame minucioso da condição humana. E tudo isso sem nenhuma pretensão, com uma simplicidade quase franciscana.
A experiência de assistir a um filme de Rohmer é alcançar a certeza de que para ser profundo e perene um filme não precisa ser monótono nem intrincado. Rohmer, como Truffaut, conta-nos histórias simples que nos conduzem à iluminação e à compreensão de certos segredos e mistérios, que são tão evidentes quanto o céu sobre nossas cabeças, mas que, por ingenuidade ou ponto de vista obliterado, não os enxergamos.
Um dos maiores exemplos está em Conto de verão: durante a estação de veraneio que passa numa praia, um rapaz se envolve com três garotas. Indeciso, hesitante, pois as três o atraem e cada uma apresenta um predicado que as outras não possuem, ele não sabe a quem escolher e nem imagina que sua decisão partirá da vida, com seu inevitável fluxo, a nos conduzir como a uma folha seca na correnteza. Sua decisão será, portanto, incidental. Rohmer usa o deus ex machina, mas não como um recurso artificial, evidente, que de imediato o espectador percebe. Ele é sutil, porque é simples, e é simples porque é natural, não inventa. Seu refinamento está nisso. Arte destituída do rigor da palavra arte.
Rohmer se foi, mas ficaram seus filmes, exemplos de beleza estética, de narrativa sem pretensão, de profundidade sem monotonia e de uma simplicidade técnica que só os grandes artistas alcançam.
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
COINCIDÊNCIA DE VERÃO

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
O FAROL

Pintura: Lighthouse hill (1927), óleo sobre tela, de Edward Hopper (1882-1967), pintor norte-americano.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
A CRUZ E A ESPADA
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
O ÚLTIMO SUSPIRO

Imagem: Einar Turkowski, do livro Estava escuro e estranhamente calmo (CosacNaify, 2009).
domingo, 3 de janeiro de 2010
OS HÚNGAROS

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
OS GOLFINHOS SÃO MAIS GENTIS

"Alguns cardumes de golfinhos às vezes passam por aqui, do outro lado da baía, um pouco além de Ito. Parece que eles são pescados perto da praia; os homens tiram as roupas, entram na água e os capturam com as próprias mãos. Os golfinhos não resistem quando se fazem cócegas debaixo de suas barbatanas."
"Coitados..."
"Eu me pergunto se uma moça bonita resistiria."
"Que ideia repugnante! Pois bem, imagino que ela iria lufar, unhar e arranhar!"
"Provavelmente os golfinhos são mais gentis..."
Aí está, sem explicações, nem conclusões. Para o deleite e o proveito do leitor atento e competente.
Prêmio Nobel de Literatura de 1968, Yasunari Kawabata é seguramente um mestre da literatura japonesa do século XX. Atribui-se a ele, inclusive, a modernização da prosa de seu país, com a publicação de A dançarina de Izu, em 1926. Autor de vários romances e contos, sua obra está sendo pouco a pouco editada no Brasil pela editora paulista Estação Liberdade, que já publicou: A dançarina de Izu, Kyoto, O país das neves, Contos da palma da mão, A casa das belas-adormecidas (que inspirou Gabriel García Márquez a escrever Memória de minhas putas tristes) e Mil tsurus. Kawabata se matou em 1972. A tradução do excerto acima é de Alberto Alexandre Martins, da edição da Globo, de 1988.
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