"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

terça-feira, 7 de julho de 2009

O POLICIAL

Livros como A lua na sarjeta, O homem que via o trem passar, O destino bate à sua porta, O longo adeus e Fuga para o inferno são policiais porque assim foram rotulados quando de sua primeira edição. Mas, se comparados ao romance O estrangeiro, ao conto A cartomante, a São Bernardo, a Crime e castigo, a Crônica de uma morte anunciada ou a Noite, de Érico Veríssimo, não há diferença alguma. Todos são literatura porque são reflexão sobre a vida e o indivíduo. E, se alguém me disser que o que separa o gênero policial da chamada alta literatura é a linguagem, digo que ser límpido e direto também é uma arte, e que, assim, James M. Cain e Graciliano Ramos se equivalem, pois são predominantemente secos e ácidos, assim como Simenon e Dostoiévski são psicológicos, e Goodis e Camus, poéticos. Mas, se ainda assim persistir a dúvida, lembro que dois dos inventores do gênero policial são nada mais nada menos que Edgar Allan Poe (Os crimes da Rua Morgue) e Balzac, com vários contos e romances. E não vejo quem possa afirmar, categoricamente, que eles não são literatura... O gênero policial é só um subgênero temático do gênero narrativo, subgênero este do gênero épico. Um modo de nomear capítulos em compêndios de Teoria da Literatura e de organizar estantes em livrarias.

4 comentários:

Hitch disse...

As instâncias diárias e impostas pelo mundo vasto mundo não nos impede de beber plenamente textos desse calibre. Ao reencontrar com Drica, era dessa bebiba que mais tomavámos. Aquele abraço. T

Georgio Rios disse...

Uma sábia lição de literatura!!!!!!!

Lidi disse...

Concordo com Georgio, bela aula de Literatura! P.S: Comprei um livro de Edgar Allan Poe e de Simenon. Ainda não os li, mas farei isso assim que tiver um tempinho. Um grande abraço.

Brontops Baruq disse...

...pré-adolescente e naquela época, verdadeiramente tímido (pois quando se pergunta, todos respondem que são tímidos), um parente meio distante que estudava na USP veio nos visitar em casa.

Ele me perguntou se eu lia. Quando uma pergunta se a pessoa lê, não quer saber se ela é analfabeta ou se lê emails ou quadrinhos ou jornais. Ela quer saber se você lê livros. Respondi que sim: Stephen King e Raymond Chandler. Naquele tempo, havia toda uma "moda" de filmes e romances noir e eu, como pré-adolescente, fatalmente seguiria alguma moda. Lembro que estava começando a ler "Longo Adeus", incentivado também pelos quadrinhos "Sam Pezzo" do italiano Giardino. Stephen King servia para alimentar meus próprios monstros.

"Bem" respondeu de um jeito pedante, "pelo menos, você lê."

Quando eu mesmo entrei na USP, a perspectiva de cruzar com esta gentinha me provocava enjoos. Felizmente, eles me evitavam. Deviam achar que eu tinha sarna.

Chandler é muito bom. Mas faz muito tempo que eu o li, talvez devesse reler.