Fotografia de Evgen Bavcar.
AS TRÊS PALAVRAS MAIS ESTRANHAS
Quando pronuncio a palavra Futuro,
a primeira sílaba já pertence ao passado.
Quando pronuncio a palavra Silêncio,
destruo-o.
Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não-ser.
TUDO
Tudo –
palavra atrevida e enfunada de soberba.
Deveria escrever-se entre aspas.
Aparenta nada omitir,
tudo reunir, abarcar, conter e ter.
Porém, não é mais
do que um farrapo do caos.
DAS RECORDAÇÕES
Estávamos à conversa
e de repente calámo-nos.
No terraço apareceu uma rapariga,
ai que bonita,
demasiado bonita
para a nossa estada aqui, tão sossegada.
A Bárbara, alarmada, olhou de relance para o marido.
A Krystyna, instintivamente, pousou sua mão
sobre a do Zbyszek.
E eu pensei ligar e dizer-te:
por enquanto não venhas,
prevêem chuva para os próximos dias.
Somente a Agnieszka, viúva,
saudou a bonita rapariga com um sorriso.
AS TRÊS PALAVRAS MAIS ESTRANHAS
Quando pronuncio a palavra Futuro,
a primeira sílaba já pertence ao passado.
Quando pronuncio a palavra Silêncio,
destruo-o.
Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não-ser.
TUDO
Tudo –
palavra atrevida e enfunada de soberba.
Deveria escrever-se entre aspas.
Aparenta nada omitir,
tudo reunir, abarcar, conter e ter.
Porém, não é mais
do que um farrapo do caos.
DAS RECORDAÇÕES
Estávamos à conversa
e de repente calámo-nos.
No terraço apareceu uma rapariga,
ai que bonita,
demasiado bonita
para a nossa estada aqui, tão sossegada.
A Bárbara, alarmada, olhou de relance para o marido.
A Krystyna, instintivamente, pousou sua mão
sobre a do Zbyszek.
E eu pensei ligar e dizer-te:
por enquanto não venhas,
prevêem chuva para os próximos dias.
Somente a Agnieszka, viúva,
saudou a bonita rapariga com um sorriso.
WISLAWA SZYMBORSKA (1923). Poetisa polonesa, Prêmio Nobel de 1996. Traduzidos por Elzbieta Milewska e Sérgio Neves, os poemas acima integram o volume Instante (Chwila): Lisboa: Relógio D´Água, 2006.
3 comentários:
Lindos, maravilhosos, perfeitos, os poemas.
Faço coro as palavras de Mônica.
"
Quando pronuncio a palavra Silêncio,
destruo-o.
Tudo (...) não é mais do que um farrapo do caos.
"
Basta.
Postar um comentário