sábado, 1 de janeiro de 2011

VÁ E VEJA, 13: LE BONHEUR

Le bonheur (1965), que recebeu no Brasil o péssimo título As duas faces da felicidade, é um dos mais bonitos, sedutores e cifrados filmes franceses da década de 1960. Dirigido por Agnès Varda, que também assina o roteiro, Le Bonheur constitui uma narrativa completamente aberta a interpretações e significados, além de um exame despretensioso sobre o que é a família, o amor, o sexo, o homem e a mulher.

Uma das reflexões mais visíveis que o filme apresenta, e que mesmo o espectador mais distraído não está longe de alcançar, propõe uma espécie de revisão, em versão moderna, fundada talvez no espírito da contracultura daquela década, do paraíso cristão; como ele poderia ter sido se Adão e Eva, por sua “falta”, não tivessem sido expulsos. Um paraíso onde haveria amor, crianças, trabalho, amigos, fins de semana, passeios no campo, sonecas nas tardes de domingo, amantes e especialmente sexo. Com isso, Varda nos diz, indiretamente, que o paraíso é a própria vida e que, ao nos expulsar daquele lugar aprazível dos primeiros tempos, e que Adão e Eva supostamente teriam maculado, Deus, na verdade, nos devolveu ao verdadeiro Éden: a vida humana. A cobra e a maçã eram, portanto, uma charada.

Agnès Varda, que começou como fotógrafa, nasceu na Bélgica, mas se notabilizou na França. É considerada, hoje, a precursora da Nouvelle Vague, movimento cinematográfico francês encabeçado por Jean-Luc Godard e François Truffaut, e com seguidores de primeiro momento como Claude Chabrol e Eric Rohmer. Seu estilo neste filme é vívido, claro e espontâneo, lembrando às vezes a “reserva autoral” do seu contemporâneo Robert Bresson. Usa a cor como marcação narrativa e também como representação tanto do verão, cenário edênico do filme, quanto da felicidade do protagonista. Quando a cor se ameniza, é porque a felicidade também se atenua. A música, de um Mozart quase abstrato, contrasta com a atmosfera de cor, luz e encanto que envolve os personagens.

Le bonheur recebeu três prêmios internacionais em 1966: o Louis Delluc, o David Selznick e o especial do Festival de Berlim.

3 comentários:

  1. Vou procurar para comprar!!! Fiquei super curiosa :)
    Super beijo. Super 2011.
    BF

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  2. gosto tanto de agnès varda!
    um beijo Mayrant! feliz de ter tido alguns encontros com você em 2010... que continuem!

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  3. Esse filme é belíssimo. Desde a trilha sonora, as cores marcantes :)

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