
A princípio, um incidente sem grandes consequências ― ao menos para mim, que não gosto de automóveis. No entanto, o que se viu foi a instauração do pânico, pelos seguintes motivos: o prédio não estava preparado para nenhum tipo de incêndio, uma vez que eram poucos os extintores em condições de uso, e os bombeiros chegaram com mais de uma hora de atraso, e assim mesmo — segundo as testemunhas — só depois que um morador foi convocá-los no quartel! A alegação era a de que não havia, naquele momento, nenhum veículo disponível.
Já em ação, os bombeiros expuseram toda a sua perícia e coragem, apesar da falta de equipamento adequado — luvas, máscaras, escada, machado (tiveram que arrebentar o telhado da garagem com as mãos nuas) — e só meio-tanque de água. Felizmente, eles são bombeiros conscienciosos, verdadeiros heróis, a ponto de avançarem contra a fumaça tóxica para resgatar pessoas ou combater as chamas. Foi assim que eles retiraram, por precaução, várias pessoas do prédio. E foi assim também que eles encararam o fogo e o debelaram. No fim, o prejuízo ficou na conta do material, e os moradores voltaram às suas camas e aos seus afazeres, em meio à fuligem e ao cheiro intenso de borracha queimada.
O que prevaleceu, no entanto, foi a certeza de que fatos inesperados podem acontecer perto de nossa casa ou mesmo nas suas entranhas, e é aí — nestas circunstâncias de exceção — que vamos descobrir com “quem” estamos lidando. Numa cidade que é talvez a quinta ― se não a quarta ― capital do País, os bombeiros estão no século XIX em termos de equipamento. Estão enfrentando o fogo com a cara e a coragem, as mãos nuas e a água que encontram. Assim, muito embora o comprovado senso de profissionalismo e o heroísmo, fica difícil realizar um trabalho exemplar.
Bombeiros ― como água, polícia, saúde, esgoto, energia elétrica e educação formal ― é algo básico, que não pode faltar, nem muito menos ser oferecido a duras penas ou pela metade. Se assim for, é melhor que não exista, se não quisermos cair no vexame ou incorrer no papelão. Mas lembro bem que anos atrás minha esposa precisou fazer um exame específico nas duas mãos, e o Planserv autorizou apenas para uma, como se ela fosse maneta... Pelo visto, tal procedimento tornou-se uma prática comum, e o que tivemos nesta madrugada é o mais evidente exemplo disso: meio-tanque de água, meio-carro de bombeiros, meio-equipamento, meia-noite de sono... Só os bombeiros eram realmente inteiros! Lógica de manetas.
No ano passado, meu irmão veio passar um feriado aqui na minha casa. No meio da noite, explodiram um carro bem em frente a ela. Ele, que atrai fogo como ninguém (e essa é uma história que um dia merece ser contada), me chamou imediatamente. Pegamos os telefones para ligar para os bombeiros e para a polícia. A polícia não veio, e os bombeiros só chegaram depois de uns vinte minutos, quando os moradores da rua já tinham apagado o fogo. É um país ralado.
ResponderExcluirQue situação terrivel caro amigo!!!Estamos mesmo a meia mão de tudo.
ResponderExcluirÉ fogo viver nesse país. Aquele abraço.
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