
Fiel a essa definição, o autor desenvolve uma trama que principia com uma ressalva do narrador à forma como as histórias se iniciam: as escolhas feitas, o mundo em que os personagens vão transitar, as circunstâncias históricas, a atmosfera. Continua como se fosse uma narrativa noire, numa imersão de mistério e enigma; ganha um inesperado sopro com um episódio de guerra, no qual um juramento religioso é acionado e que, doravante, vai mudar a existência dos personagens, conduzindo uma mulher à morte prematura, pelo descaso consigo mesma e pela ausência forçada de seu amante, e dois homens a uma união de amizade cujo núcleo é aquela mulher, amada por ambos. Depois a trama se torna policialesca, com o aparecimento de um detetive particular nada ortodoxo, e por fim adquire significado religioso, com o requinte de deixar em aberto a possibilidade de ter ocorrido um milagre.
E costurando tudo isso o estilo altamente sedutor de Graham Greene, capaz de nos submergir em análises profundas sobre a vida e o mundo, sem que isso implique uma linguagem enfadonha ou panfletária. Ou seja: um romance completo. Não é à toa que Faulkner, que não era dado a elogiar autores contemporâneos, declarou seu entusiasmo e apreço por este livro. Um clássico moderno.
A primeira tradução deste romance no Brasil recebeu um curioso título: Crepúsculo de um romance. Sem dúvida muito mais poético, mas infiel ao original em inglês, mais seco.
As duas versões cinematográficas, embora bonitas e profissionais, não conseguem empolgar o espectador: a primeira (Pelo amor de meu amor, 1955), com Deborah Kerr, enfatiza o caráter religioso do relato, em detrimento da relação entre os amantes, quase sob as barbas do marido; a segunda (Fim de caso, 1999), dirigida pelo sempre decepcionante Neil Jordan, e talvez porque seja muito pretensiosa, dilui o peso da narrativa numa sucessão de quadros exóticos cuja maior atração é a fotografia, escura e difusa.
Já o livro, bem, ele como que nos arrebata e derruba, deixando-nos desde o início com a sensação de que estamos diante de uma joia rara. E estamos.*
*Agradeço a Lidiane Nunes, que me sugeriu fazer uma breve resenha deste romance, do qual somos entusiasmados admiradores.
Ah!! Eu tinha gostado tanto da segunda versão cinematográfica!!!
ResponderExcluirMas concordo com você ela promete mais que realmente dá.
O livro é sempre o livro né???
Raras as exceções!
Mayrant, invariavelmente você deixa a gente com vontade de correr a livraria mais próxima ontem.
Brigada
Marie
Mayrant, fico feliz que tenha acatado a minha sugestão. Resenha primorosa. Fim de Caso é mesmo um livro maravilhoso! Um grande abraço.
ResponderExcluirFui uma leitora furiosa dos livros de Green, há alguns anos, e ainda tenho muitos deles em minha estante.
ResponderExcluirEsse romance, em particular, é um dos melhores que ele escreveu. Os filmes não deram conta do relato delicioso, que prende a gente até o fim.
Abraço, Mayrant.
Mayrant, um primor o livro, de fato...todo o embasamento aprofundado de amor, de teor reflexivo de dor e prazer, de sexo e sentimento, de sensação e observação...tudo é perfeito.
ResponderExcluirParabéns pelo texto!
Mas, discordo de ti, considero o Neil Jordan um diretor de qualidade - Entrevista com o vampiro recebeu seu sopro de vida sendo adaptado por ele com muito requinte...Traidos pelo desejo é um belo filme e o A Premonição teve momentos eficientes...além de que a adaptação de Fim de caso conseguiu funcionar bastante com a química interpretativa de Ralph Fiennes e Jullianne Moore.
abraço
"Já o livro, bem, ele como que nos arrebata e derruba, deixando-nos desde o início com a sensação de que estamos diante de uma joia rara. E estamos.*"
ResponderExcluirque perfeito! quando me perguntarem do livro, direi o que vc disse. terminei de ler o livro e tô arrebatada.